sábado, 8 de abril de 2017

[Resenha] O Vilarejo

Título: O Vilarejo

Autor: Raphael Montes

Editora: Suma de Letras

Número de páginas: 96 


Sinopse: Em 1589, o padre e demonologista Peter Binsfeld fez a ligação de cada um dos pecados capitais a um demônio, supostamente responsável por invocar o mal nas pessoas. É a partir daí que Raphael Montes cria sete histórias situadas em um vilarejo isolado, apresentando a lenta degradação dos moradores do lugar, e pouco a pouco o próprio vilarejo vai sendo dizimado, maculado pela neve e pela fome.






Defina o livro com uma frase: Você acha que “a grama do vizinho é sempre mais verde”? Que tal começar a repensar essa frase?

Antes tarde do que nunca, não é mesmo? Comecei a escrever essa resenha a pelo menos um ano atrás e olhem só... Descobri ela largada aqui e quase dei um soco na minha cara depois de lê-la... Não sou nenhuma crítica literária, mas putaquepariu, que merda eu tinha escrito? Sem mais delongas vamos ao que realmente importa:

“O Vilarejo” é um livro de contos que transporta o leitor a um universo funesto em que Raphael Montes trata o próprio livro como um manuscrito que foi traduzido de uma língua desconhecida – mais tarde descobre-se que era cimério (sim, oi?).

Como ele mesmo diz no prefácio, os contos podem ser lidos na ordem em que você bem desejar. Porém, eu recomendo fortemente que você leia na ordem apresentada – se você quiser se aventurar, que tal deixar pelo menos o último conto para ser lido por último? Você não se arrependerá com a surpresa :)


Estes contos, que por sinal são sete, acontecem em um vilarejo desconhecido que foi isolado devido a sua localização maldita, assolada por um clima bem bosta, e uma guerra civil que impossibilitou a passagem de mercadores ou viajantes. Então o que dá para concluir com isso? Os habitantes do vilarejo estão: 1) isolados; 2) passando necessidade, afinal de contas como alguém vai conseguir comida no meio de tanta desgraça?; 3) basicamente, enterrados com merda até os joelhos...

“- Não adianta ter esperança... Fomos esquecidos.
- Esquecidos por quem, meu filho?
- Pelo mundo. Por Deus.
- Ou talvez tenham sido lembrados pelo Diabo.” (Página 80)

Cada um destes sete contos está ligado a um dos sete pecados capitais, que por sua vez está relacionado a um dos Sete Reis do Inferno (sete demônios do círculo íntimo do capiroto). 

Se você já leu algum dos livros do Raphael, você sabe que o menino gosta de trabalhar com a nossa amiga desgraça. Então se você não tem estômago forte ou não gosta de livros de terror, talvez você queira começar por algo mais “leve” – ainda mais porque o livro está recheado de ilustrações maravilhosamente desoladoras.

Cada história é curta e seca. Direta ao ponto. Não há espaço para deixar os acontecimentos em aberto, cada evento realmente aconteceu. E da pior maneira possível... Se você espera um livro que floreie as coisas, tome cuidado queriiida. Raphel não mede palavras para descrever a o que uma pessoa é capaz de fazer, ou quem ela é capaz de passar por cima para se “salvar”. Mas tem um porém, por mais que essas atitudes acabem gerando uma certa sensação de progresso, quanto mais você se debate mais você afunda na areia movediça da danação (ai danado).

“Você nunca teve o controle. Aí está seu erro. Seu e de todos os homens.” (Página 86)

Este livro traz todo o clima desconhecido de uma "relíquia" do passado. Seja pela narrativa que retrata uma cultura completamente esquecida, porém em certos aspectos contemporânea, ou seja pelas ilustrações extremamente imersivas. Uma coisa é clara: é impossível ler este livro sem ser sugado para o fim de mundo que é o Vilarejo. A pior parte é acabar torcendo para que tudo dê certo no final - apesar de sabermos, bem lá no fundo, que isso é impossível.


Não quero explicar mais dos contos, porque acho que lê-los pela primeira vez, sem ideia do que esperar é a melhor experiência que vocês poderiam ter - o choque causado por cada história é único a sua própria, e terrível, maneira.

Com uma narrativa tensa que te prende na primeira linha, Raphael Montes se presta ao esforço criativo de imaginar como a desordem e o desespero  podem desumanizar cada um de nós, como a aflição e o medo da morte pode nos voltar um contra o outro mesmo contra a melhor de nossas intenções. Pode não ser um retrato muito apurado da "natureza humana", mas é, com certeza, uma excelente obra de ficção, recheada de momentos marcantes e com uma conclusão pouco esperançosa.

2 comentários:

  1. Adorei sua resenha e ri muito quando vc disse que tinha esquecido dela no meio dos seus rascunhos porque eu também faço isso ás vezes haha. O único livro que li desse autor foi Dias Perfeitos e ele me traumatizou para o resto da vida. Apesar da curiosidade não sei se tenho preparo psicológico para esses contos.
    http://minimundoliterario.blogspot.com.br/

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    1. Obrigada! Hahahahah eu tenho uma certa tendência a esquecer algumas resenhas mesmo... Fico travada em alguma parte e deixo para terminar depois, o que se traduz em anos depois ahhahaha
      "Dias Perfeitos" é bem difícil de engolir mesmo, mas esse tipo de escrita mais cruel e realista sempre me cativou muito! Você deveria dar uma chance para "O Vilarejo", alguns contos são mais fáceis de digerir do que outros

      Beijos~

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