sábado, 16 de setembro de 2017

[Resenha] Elantris

“[...] Cada corte, cada raspão, cada hematoma e cada ferida ficará com você até que enlouqueça de sofrimento. Como eu dizia, bem-vindo a Elantris.” (Página 19)


“Elantris”, de Brandon Sanderson é uma fantasia de volume único publicada no Brasil em 2012, pela editora LeYa.

Em um primeiro momento “Elantris” pode parecer apresentar detalhes demais para assimilar. Isso pode tornar a leitura um pouco confusa e um pouco mais demorada. Contudo, ao decorrer das páginas, aquelas inúmeras palavras em línguas desconhecidas vão começar a fazer cada vez mais sentido, até fazendo parte do seu próprio vocabulário – aliás, se você se incomoda por não lembrar o significado dessas palavras, no final do livro existe um glossário/dicionário. Então mantenha a calma e siga em frente. Prometo que tudo se encaixará perfeitamente.

Já havia lido o incrível número de dois livros do Brandon Sanderson, “Mistborn: O Império Final” e “Coração de Aço” e posso dizer que após terminar “Elantris”, sua primeira obra a ser publicada, ele confirmou seu lugar no hall dos meus autores favoritos.

Em “Elantris” de cara somos introduzidos ao momento em que o príncipe herdeiro de Arelon, Raoden, descobre que sua vida acabou, pois ele acaba de se tornar um Elantrino.

Mas que diabos é um Elantrino? Dez anos atrás o reino de Elantris, a cidade dos Deuses, foi amaldiçoada, enlouquecendo e destruindo todos os Elantrinos. Esta “praga” ficou conhecida como a Shaod. Antes da Shaod, os Elantrinos eram um povo belo e próspero, que apresentava a habilidade de manipular os aons – símbolos que evocavam as mais diversas “magias”.

No lugar desta utopia, somos introduzidos a uma Elantris pós Shaod, em que qualquer pessoa que for amaldiçoada para se tornar um Elantrino, é jogada pelos portões de Elantris sendo deixada para morrer...

A Raoden não é explicado nada, ele apenas passa pelo rito de passagem e é atirado em Elantris vestindo um manto branco e segurando uma cesta com alguns poucos mantimentos – oferendas da sua passagem.

“[...] Cada corte, cada raspão, cada hematoma e cada ferida ficará com você até que enlouqueça de sofrimento. Como eu dizia, bem-vindo a Elantris.” (Página 19)

Ao mesmo tempo, conhecemos a princesa de Teod, Sarene, que foi prometida a Raoden. Imaginem a “surpresa” ao desembarcar nos portos de Kae e descobrir que ela não é noiva, e sim viúva, já que seu noivo “morreu” de uma hora para outra. A pior parte é que ela está amarrada a Arelon pelo seu contrato matrimonial. Porém, ao contrário do que se era esperado, ela resolve tomar esta oportunidade para observar de perto o reino e descobrir que tem muita sujeira embaixo do tapete.

“[...] Não corra se tem forças apenas para andar, e não perca tempo forçando paredes que não cederão. Mais importante ainda, não empurre quando um tapinha é suficiente.” (Página 148)

Ainda mais com a chegada de Hrathen, um sacerdote derethi. O gyorn (alto poder na religião derethi) tem a missão de converter toda Arelon ao shu-dereth em três meses, uma missão dada pelo próprio Wyrn Wulden – o próprio representante de Jaddeth no mundo mortal.


Desde o momento que Hrathen pisa em Arelon ele chama atenção. Seja pela forma com que ele se porta ou por sua característica armadura vermelho sangue, todos os olhares se voltam para o gyorn, que chegou para tornar a missão dada por Wyrn em realidade, custe o que custar.

Raoden é uma pessoa extremamente otimista. Esta característica é tão marcante que chega a irritar em alguns momentos. Parece que ele só consegue enxergar o lado bom das piores situações e nos corações das pessoas mais maldosas.

“Podemos ser fortes diante de reis e sacerdotes, minha senhora, mas viver é ter preocupações e incertezas. Mantenha-as guardadas, e elas a destruirão, deixando para trás uma pessoa tão calejada que as emoções não enraizarão em seu coração.” (Página 274)

Ao decorrer da narrativa Sarene vai conhecendo mais sobre quem foi Raoden, pelo ponto de vista das pessoas que o seguiam e esses momentos servem para apertar nossos corações e pensar “e se ele não tivesse virado Elantrino?”. Sarene não se deixa abater por ninguém, ela é uma verdadeira rainha, um exemplo a ser seguido. O fato de ela ser mulher só fortalece seus objetivos. Nada de masculinizá-la, dotá-la de capacidades sobre humanas ou fazer com que ela caia nos clichês pré moldados. Ela é forte porque sabe jogar com as armas que ela tem em mãos. Ela roubou o coração de tantos leitores por ser real, alguém a inspirar outras mulheres.

“A verdade nunca será derrotada, Sarene. Ainda que as pessoas a esqueçam de vez em quando.” (Página 233)

Já Hrathen. Ah, como não odiá-lo e amá-lo ao mesmo tempo? Este é um dos personagens que mais me surpreendeu ao decorrer do livro. Seus valores são muito bem definidos, e ele acredita do fundo do coração que todos os reinos devem se converter ao su derethi. Ele é completamente leal e cego ao mesmo tempo. Seu crescimento ao decorrer da narrativa é um dos mais colossais de todo o livro.


O fato da narrativa se dividir entre os três protagonistas nos dá uma panorama muito mais completo e abrangente deste universo. Hora estamos no castelo de Kae, acompanhando as tramóias do rei e o movimento rebelde, hora estamos em Elantris tentando sobreviver em meio ao caos de dentro das muralhas, e hora estamos em todos os lugares ao mesmo tempo com os esquemas de um sacerdote com completa fé em seu senhor.

“Elantris” é completo, instigante, profundo, recheado de personagens extremamente cativantes, problemas colossais, magia e o mais importante – e o que talvez tenha chamado a atenção de tanta gente – se trata de um livro único extremamente bem amarrado. Quantos livros, principalmente no gênero de fantasia, vocês já leram que conseguem contar uma história tão profunda com apenas 576 páginas?

“ A felicidade era mais do que a ausência de desconforto.” (Página 361)

A forma com que a narrativa é construída aos poucos, e a antecipação de um possível encontro entre os três protagonistas quase me matou. Brandon Sanderson definitivamente sabe construir um cenário de tensão, sem nunca perder seu tão característico humor e empoderamento feminino.

Na minha opinião não existem pontos negativos em “Elantris”. Talvez o único “problema” é a saudade que os personagens e esse mundo deixam ao terminarmos a última página...

Autor: Brandon Sanderson
Editora: LeYa
Número de páginas: 576
Classificação: ★★★★★♥/✰✰✰✰✰

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