terça-feira, 3 de outubro de 2017

[Resenha] Ninféias Negras

"Mas a regra era cruel: somente uma poderia escapar. As outras duas precisavam morrer. Era assim que tinha que ser. [...] Na sua opinião, qual delas conseguiu escapar?" (Página 12)

A primeira coisa que eu tenho a dizer, sendo uma exímia conhecedora de plantas e flores, é que ninféias são a mesma coisa que lírios… Gente sério, cuidado com a burra que nunca tinha visto uma ninféia antes e precisou digitar no google pra descobrir que era um lírio… Bendita tradução francesa, ou bendita burrice? Fica o questionamento.

“Ninféias Negras” se passa em Giverny, uma pequena cidade francesa que atrai milhares de turistas todos os anos por ter sido o último lar de Claude Monet, um dos maiores nomes da pintura impressionista. Monet pintou suas obras mais aclamadas em Giverny, incluindo suas famosas ninféias - que totalizam mais de 200 quadros.

“Num vilarejo, viviam três mulheres. A primeira era má; a segunda, mentirosa; a terceira, egoísta.” (Página 11)



É justamente nos famosos jardins de Monet que um renomado médico com fama de mulherengo é encontrado morto. Junto a seu corpo foi descoberto apenas um cartão de aniversário com uma imagem de um dos quadros de ninféias de Monet e a frase: “O crime de sonhar eu consinto que seja instaurado” - MASOQ?

Os investigadores envolvidos no caso não poderiam estar em uma situação pior, já que nenhuma prova parece ajudar a desvendar o mistério, apenas aumentam a tensão entre os próprios habitantes de Giverny.

Com uma narrativa que alterna entre o investigador Laurcenç, a simpática professora Stéphanie, uma menina prodígio de 11 anos que sonha em ser pintora e uma misteriosa velha que observa o mundo do alto de sua janela. “Ninféias Negras” (“Black Water Lilies” para os íntimos) é um livro com uma narrativa complexa e imersiva, que te pega na curva com uma revelação bombástica completamente inesperada.


Pensando bem sobre como foi a minha experiência de leitura com “Ninféias Negras”, diria que este é um dos livros que se arrasta e láááá no final, basicamente faltando 100 páginas, toma um ritmo “bola de neve descendo uma montanha a 200km/h”, o que torna impossível não devorar as páginas com sede pelas respostas. Apesar dessa mudança muitíssimo bem vinda, fico me questionando: será que esse é um livro bom ou apenas o final o salvou?

“[...] uma menina tão ofuscada por seu brilho que nele queimou os próprios olhos.” (Página 334)

Com um dos prólogos mais instigantes que eu já li e a grande questão: quem matou Jérome Morval? Nos perseguindo desde o início do livro, somos fisgados por “Ninféias Negras”. O fato de a todo momento novas perguntas serem feitas, só tende a aumentar a nossa expectativa pela verdade. Justamente por não entregar seus maiores segredos tão facilmente, “Ninféias Negras” é um livro tão cativante.

O motivo deste livro não ter sido perfeito foi o exagero no aprofundamento do autor sobre a pintura. Essa imersão cultural não desperta a curiosidade do leitor, mas é angustiante. Temos um caso complexo em mãos e o autor só fala sobre os quadros e pintores. Podemos, pelo amor da deusa, parar de falar de pinturas e resolver logo essa moléstia de assassinato?



“Nós aqui vivemos dentro de um quadro. Estamos emparedados! Achamos que estamos no centro do mundo, que valemos a viagem, como se diz. Mas o que acaba escorrendo em nós é a paisagem, o cenário. Uma espécie de verniz que nos cola ao cenário. Um verniz diário de resignação. De renúncia…” (Página 166)

Se você é fã de pintura (DUUUH) ou de thrillers policiais, “Ninféias Negras” é um prato cheio. Ainda mais pelo final digno do selo “de cair o cu da bunda” de qualidade (y).

Autor: Michel Bussi
Editora: Arqueiro
Número de páginas: 352
Classificação: ★★★,5/✰✰✰✰✰

*Livro cedido em parceria pela editora*

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