sexta-feira, 24 de novembro de 2017

[Resenha] Suicidas

“Afinal, tudo acaba. Ninguém morre vazio de sonhos. O morto é enterrado com seus projetos, seus desejos, tudo… Num átimo, o tudo vira nada, e é só. A vida continua.” (Página 228)



Alessandro e Zak são dois amigos de infâncias que cresceram juntos e não poderiam ter personalidades mais distintas, Alê é introspectivo e aspirante a escritor. Já Zak é tudo o que você espera de um playboy carioca. Apesar das diferenças eles mantém um forte elo de amizade. que é compartilhado até o dia que ambos são encontrados mortos com os corpos de outros sete jovens no que aparenta ser um suicídio coletivo, por meio de um jogo de roleta russa. O que poderia ter levado nove jovens da elite carioca a se suicidarem? Já deixo avisado: nada é o que aparenta ser.

“Quando nos tornamos esses monstros armados e delinquentes? Com umas doses de álcool, alucinógenos e um porão abafado puderam nos transformar em seres tão pífios? E, sim, eu me incluo no grupo.” (Página 285)

“Suicidas” é o romance de estreia de Raphael Montes, que recentemente ganhou uma reedição sensacional pela Companhia das Letras. Não se engane achando que por se tratar do primeiro romance de Montes, teremos algo diferente do habitual desgraçador da sua narrativa. Este é um dos livros com fortes críticas sociais a alta classe carioca, onde todos os detalhes mais grotescos são esfregados na sua cara. “Suicidas” deixa claro que Raphael Montes não veio para brincadeiras.

O livro é narrado de maneira alternada em três momentos: a transcrição da reunião das mães das vítimas do suicídio, diários de Alê e o livro que narra em detalhes o que aconteceu no dia do suicídio. Essa mudança na narrativa faz com que tenhamos uma visão maior sobre todos os pontos de vista. Tanto dos jovens que se suicidaram, quanto o das mães que foram deixadas para juntar os cacos - e faz com que conheçamos melhor as pessoas por detrás das máscaras que mostravam para a família.

“Engraçado como ainda não me acostumei com a ideia de que, em breve, não estarei mais aqui…” (Página 93)

Fui pega de surpresa com este livro. Não esperava que ele fosse tão bom e tão terrível ao mesmo tempo. Raphael Montes narra eventos que são difíceis de engolir e me atrevo a dizer que este é o seu livro mais pesado, já que trata de assuntos muito delicados, porém extremamente gráficos.

Apesar da forma inovadora de narrar a história, em alguns momentos as intermitências entre os capítulos se tornam repetitivas, o que atrapalha um pouco a tensão entre os capítulos - que por sinal, é digna de causar uma parada cardíaca. Mas essa alternância de perspectivas também faz com que, ao decorrer dos capítulos, comece a ficar mais claro a motivação dos personagens - de um modo muito bizarro.

Alguns momentos são difíceis de ler. Então já vá avisado do peso deste livro, ainda mais porque aqui tem de tudo. Se você é uma pessoa que se impressiona com facilidade, talvez esta não seja uma leitura recomendada. Afinal, Raphael Montes descreve cenas que passam com tanta clareza, que parece que tudo está acontecendo na nossa frente.

“A grande verdade é que estávamos desgastados. A cada tiro, morria a própria vontade de morrer. Vinha o desejo de deixar toda aquela merda para trás, de dar mais uma chance ao mundo, de tentar mais uma vez.” (Página 254)

A forma com que o livro é escrito, como se tudo não se passasse de um apanhado das pistas e provas encontradas pela polícia, faz com que este livro tenha um tom de série de suspense - aliás, por favor façam logo uma série desse livro.

Como já é de praxe com relação aos livros do Raphael Montes, as coisas não estão tão na cara quanto aparentam e o buraco definitivamente é bem mais embaixo. Ficou curioso quanto a motivação dos personagens? Se atreva a devorar “Suicidas”, só não diga que eu não avisei…

“I  wish I could write you a melody so plain/ That would save you, dear lady, from going insane/ That would ease and cool you and cease the pain/ Of your useless and pointless knowledge…” (Página 38)

Autor: Raphael Montes
Editora: Companhia das Letras
Número de páginas: 432
Classificação: ★★★★★♥/✰✰✰✰✰

Nenhum comentário:

Postar um comentário