sexta-feira, 30 de março de 2018

[Resenha] A Guerra da Rainha Vermelha #1: Prince of Fools

“Dois heróis, um levado a esmo por seu pau, o outro ao norte por seu coração. Nenhum usando o cérebro em qualquer decisão importante. Não os julguemos com dureza, meus soldados, pois nada é realmente profundo, nada tem consequência.” (Página 299)


Alguém mais estava sentindo saudade do Império Destruído, apresentado na Trilogia dos Espinhos

Se na trilogia inicial estávamos acompanhando um personagem munido de coragem e vingança, aqui temos alguém que utiliza outros meios para atingir seus objetivos: a covardia. 


“A humanidade pode ser dividida entre loucos e covardes. Minha tragédia pessoal está em ter nascido em um mundo onde a sanidade é considerada falha de caráter.” (Página 327)

Em momento algum Jalan Kendeth, décimo neto da temida Rainha Vermelha e príncipe de Marcha Vermelha, engana o leitor ao se dizer corajoso e honrado. Desde a primeira página ele esfrega na nossa cara suas mentiras e covardia e, apesar de utilizar alguns meios desonestos para atingir seus objetivos, assim como Jorg, ambos não podiam ser mais diferentes. 

Jalan passa seus dias usufruindo do seu status. Ele prefere ignorar completamente as questões do reino e se dedica a atividades sem qualquer relação a família real, como bebida, apostas e sedução. Ele utiliza de seu charme para sair das situações mais absurdas, não que isso sempre funcione, e tenta convencer seus subordinados de que ele é um príncipe herói…

“Talvez a coragem fosse apenas isso - uma forma de delírio. Certamente, ficava muito mais fácil de entender, se fosse esse o caso.” (Página 167) 


Porém, os dias de fanfarrice de Jal estão contados. Uma guerra se aproxima, e nem mesmo ele poderá ignorar a ameaça da mão do Rei Morto. Após uma série de infortúnios - na falta de uma melhor palavra para definir ser jogado de cara em um monte de bosta e ser amarrado magicamente a um gigante nórdico - ele se vê lançado em uma jornada que o colocará de frente com os seus piores pesadelos.

“[...] Cada encanto é um ato de vontade que luta para se completar. Os desejos dos mais poderosos, quando ditos, quando enunciados pelos caminhos que sua arte gravou no tecido da existência, tornam-se seres vivos. O feitiço vai se contorcer e virar, vai mudar, cogitar, conspirar até alcançar o objetivo que o criou.” (Página 244) 

Eu não sabia o que esperar ao começar este livro e confesso que fui preconceituosa ao achar que seria um livro morno, por não ter Jorg como protagonista. Ah, doce ignorância… Jalan é tão escroto quanto Jorg, a diferença é que ele prefere usar sua habilidade com as palavras para escapar de confrontos diretos, afinal ele é um covarde assumido. 

A escrita de Lawrence amadureceu muito, e ele apresenta um maior desenvolvimento da personalidade de Jalan ao decorrer do livro, assim como dá um tom mais dinâmico ao livro. Então se você, assim como eu, ficou decepcionado com Emperor of Thorns, se alivie! “Prince of Fools” apresenta uma narrativa linear, rápida e recheada de momentos divertidos, regados a muito humor negro, sarcasmo e personagens antagônicos que interagem e prometem tirar boas risadas. 


“Viajantes sombrios na estrada. Nascidos da chama. Um príncipe os enviou. Um príncipe do mal, de trevas e vingança, um príncipe de relâmpago. Um príncipe espinho. Eles são obra dele. Mensageiros da maldição por vir.” (Página 211) 

Claro, temos também a parte pesada do livro, graças a ameaça da guerra. Porém, Jal, que nunca leva nada a sério, torna a experiência menos amedrontadora e bem menos sangrenta.

“O mundo está mudando, movendo-se sob nossos pés. Nós estamos em guerra, crianças de Marcha Vermelha, embora ainda não estejam vendo, não estejam sentindo. Estamos em guerra contra tudo que vocês possam imaginar e armados apenas com nosso desejo de resistir.” (Página 37) 

Um dos únicos pontos negativos neste livro, que não permitiu uma avaliação de cinco estrelas, foi a ausência de representatividade. As mulheres aqui são tratadas como meros objetos a serem conquistados e usados. Em momento algum temos uma personagem forte ou que apareça com outro objetivo além de nutrir os desejos sexuais dos personagens… Tirando a Rainha Vermelha e a sua promissora neta - tão importante na narrativa que eu até esqueci o nome dela. Espero do fundo do meu coração que estas personagens apareçam mais em “Liar’s Key” e que outras surjam com um papel ativo no enredo.


“Eu me perguntei se Baraqel via minha alma quando olhava para mim. Será que ela se parecia com isso? Trocada por aí, um pouquinho a cada dia, comprando o caminho de um covarde pelas margens da vida?” (Página 249) 

Com a presença de elementos sobrenaturais e magia, “Prince of Fools” traz de volta alguns dos personagens mais amados da “Trilogia dos Espinhos”, ao mesmo tempo que apresenta diversos outros que já ganharam nossos corações, ou no caso de um certo alguém, roubou.

“[...] Algumas verdades não devem ser ditas. Algumas verdades vêm farpadas, cada palavra rasgaria você pode dentro, se as forçasse a saírem de seus lábios.” (Página 400)

Autor: Mark Lawrence
Editora: Darksidebooks
Número de páginas: 420
Classificação: ★★★★♥/✰✰✰✰✰

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