"A humanidade é um germe que prospera no limite da catástrofe."
Em “Mestre das Chamas” somos introduzidos
a um universo contemporâneo apocalíptico. Porém, nada de zumbis ou outros seres
sobrenaturais. O grande protagonista desta história é um esporo: Draco incendia trichophyton.
Este esporo, apelidado
carinhosamente de “Escama do Dragão”,
infecta as pessoas e deixa manchas negras com pontos dourados. Ah, esqueci de
mencionar: causa combustão espontânea nos infectados. Ninguém sabe como essa
doença começou, porém após a instalação do, ninguém mais passa a se importar
como tudo foi desencadeado, apenas com a sua própria sobrevivência.
Harper Grayson é
uma enfermeira que trabalha na enfermaria de uma escola infantil. Assim que os
primeiros casos de Escama de Dragão começam a matar pessoas, Harper se sente na
necessidade de ajudar o próximo e vai trabalhar em um hospital, cuidando dos
infectados.
Após alguns
eventos quentes no hospital, Harper
volta para casa e engravida. Como se não bastasse, ela contrai a Escama de
Dragão, é abandonada pelo marido Jacob – de quebra ainda descobre alguns
esqueletos escondidos no armário do marido.
Inicialmente,
ambos combinaram que se fossem infectados, se suicidariam de forma indolor, não
permitindo que eles morressem em agonia nas chamas. Porém, após engravidar,
Harper percebe que quer viver, não por ela, mas sim pela criança que ela
carrega no ventre.
Tendo um alvo
pintado nas costas por ser portadora da escama – já que existe um grupo de
pessoas que quer eliminar todos os portadores – ela é obrigada a fugir. No meio
do caminho, ela encontra um homem que se auto-denomina “Bombeiro” e é recrutada
para fazer parte do seu grupo de desajustados fumegantes.
Me surpreendi muito com esse livro – que foi meu
primeiro livro do autor. Porém se você faz parte do clube de pessoas que não
gosta de cenários descritivos – ao estilo Stephen King – este livro pode ser um
pouco difícil para você. Mas, se você é assim como eu, vai amar as descrições
de Hill. Em alguns momentos elas eram tão detalhadas e reais que temia que ao virar
a página encontrasse uma mancha escorrendo sangue.
Um dos pontos
mais altos deste livro é a capacidade que Joe Hill tem de encaixar, com
maestria, pessoas completamente normais, em cenários apocalípticos e tornar
esses cenários totalmente críveis. O fato de serem pessoas comuns presas em
situações extraordinárias, só torna mais assustador a idéia de que isso pode
acontecer com qualquer pessoa, basta só um empurrãozinho da natureza – fator desgraça.
Temos mania de
comparar autores, imaginem o quão difícil fica não fazer isso quando se trata
de pai e filho. Algumas pessoas dizem que Joe Hill é a versão mais resumida de
Stephen King. Discordo, Hill tem seu próprio estilo, e sua narrativa é bem
descritiva e informativa, apresentando muitas divagações, conflitos internos e
lembranças dos personagens. Apesar de serem pai e filho, ambos são pessoas
completamente diferentes, e isso é refletido na forma com que eles escrevem.
Ao longo do
livro, Harper cita diversas obras literárias como Harry Potter, Mary Poppins e
Senhor dos Anéis. Achei isso sensacional, ainda mais por ela ser uma leitora
fanática. Essa sua característica aproxima o leitor da obra, pois faz com que
nos identifiquemos e reconheçamos as referências citadas.
Se vocês já leram
este livro deixem um comentário sem
spoilers falando o que vocês acharam da J.K. Rowlin – entendedores entenderão...
Outro ponto a ser
elogiado, e muito, é a tradução. As
expressões foram muito bem traduzidas. Elas se encaixam ao português e aquelas
que não têm uma tradução literal e perderiam o sentido ao serem traduzidas,
foram mantidas em inglês, com sua tradução logo a seguir. Precisamos de mais livros assim, chega de aportuguesar expressões que não fazem o menor sentido. #fimdoaportuguesamento
Um dos pontos
mais interessantes de “Mestre das
Chamas” é que se trata de um livro sobre as pessoas e não apenas sobre o apocalipse. Obviamente a desgraça está
presente, porém o terror real é a forma com que pessoas comuns reagem frente a
uma situação tão extrema quanto o “fim da civilização”. Seres humanos amam
tragédias e são fascinados pelo fogo, junte os dois e adicione um patógeno de
fácil transmissão e você tem o fim do mundo – com estilo.
Todos os
personagens são extremamente cativantes e bem desenvolvidos. É impossível não
se simpatizar com Harper e Nick, ao mesmo tempo que os “vilões” desta história me deixaram fervendo de raiva – calma,
cantei um pouco e já estou me sentindo melhor.
A realidade de “Mestre das Chamas” nos faz questionar
o que aconteceria na mente das pessoas, ao serem arrancadas do conforto do
comum, do habitual. Que botão é apertado no cérebro para que a histeria se
instale e torne uma pessoa inicialmente “sã”, em alguém completamente fanático
e alienado?
O problema
principal da histeria, que toma conta de centenas de milhares de pessoas, é que
ela faz com que sejam tomadas decisões em massa que só pioram o que já estava
uma merda. Adicione nessa equação o egoísmo e recursos limitados e teremos um
clássico exemplo de pessoas matando umas as outras por um pouco de alimento ou
água que, se divididos, poderiam salvar diversas pessoas, não apenas uma.
O grande vilão
desta história não é o Draco incendia trichophyton
e sim os próprios seres humanos. Em meio ao caos, o que é certo ou errado? Será
que você é capaz de qualquer coisa para sobreviver?
“Mestre das Chamas” é o clássico exemplo de que estamos a um espirro de
distância do caos e da destruição da humanidade. Basta apenas um desastre, uma
situação extrema, para que o pior da natureza humana seja invocado e sejamos
imersos no desespero completo.
Um extra que eu
não percebi, mas soube por diversas pessoas. É a conexão entre o universo de “Mestre das Chamas” e dos livros da
série “A Torre Negra” de Stephen
King. O quão sensacional isso é? Mais um motivo – além dos outros 999 – para lermos
“A Torre Negra” para ontem.
Autor: Joe Hill
Editora: Arqueiro
Número de páginas: 592
Skoob: Adicione a sua estante
Classificação: ★★★★★♥/✰✰✰✰✰
*Livro cedido em parceria pela editora*
Hey, tudo bem?
ResponderExcluirEu sou fã de carteirinha de Stephen King, mas ainda não li nada de Joe Hill. Fiquei bem feliz quando soube do lançamento de Mestre das Chamas. Você é leitora, e sabe quando tem aquela sensação de que o livro será bom. Eu tive essa sensação, e sua resenha - muito boa, aliás, só me deixou ainda mais animado. Espero lê-lo em breve.
Dicas do Jess
Oi Jessé, tudo bem?
ExcluirEu estava na mesma situação antes de ler "Mestre das Chamas", mas é praticamente impossível não se apaixonar por uma ideia tão original quanto a que é apresentada aqui.
Obrigada! :)
Espero que você também se apaixone pelo Joe Hill.
Bjs~