quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

[Resenha] Geek Love

“Precisamos dessa calorosa estupidez adulta. Mesmo conhecendo a ilusão, choramos e nos escondemos no colo deles, falando apenas sobre pirulitos que caíram ou ursinhos perdidos, e ter um pirulito ou um ursinho é algo digno de conforto. Nós nos contentamos com isso, em vez de enfrentar sozinhos as profundezas cavernosas do nosso crânio para as quais não há remédio, nem segurança, nem conforto. Sobrevivemos até que, por pura estâmina, escapamos para a sombria inocência da nossa maturidade e seu esquecimento.” (Página 136)


“Geek Love” é um livro asqueroso, fascinante e extremamente melancólico. Senhoras e Senhores, respeitável público! preparem-se para presenciar um espetáculo nunca antes visto!

Em “Geek Love” acompanharemos a família Bineswki. Mais precisamente pelos olhos da terceira (ou quarta, depende se você está contando cabeças ou bundas, como a própria autora cita) filha do casal dono do circo, Olympia Binewski. Seus pais, Al e Lil Binewski, são os donos de um circo itinerante que um belo dia passam a acreditar que seu show estava ficando muito monótono, por isso resolvem “fabricar” suas próprias atrações por meio do uso de substâncias químicas, radioativas e drogas - e o prêmio de pais do ano vai paaaara...


Se você gostou da quarta temporada de “American Horror Story”, Freak Show, saiba que “Geek Love” serviu de inspiração para o show de Elsa Mars. Inclusive as gêmeas siamesas Dot e Bette são claramente a versão de Ryan Murphy para Elly e Iphy.


A melhor palavra para definir este livro é “bizarro” - sinto que estou me repetindo, mas é o termo que mais faz sentido. Temos personagens cativantes e deturpados, em parte pelo próprio caráter de seus pais, que apesar de compartilharem o mesmo sangue se voltam uns contra os outros em ataques de inveja e ódio, sempre buscando maior atenção do público. Aqui fica claro que não existem laços de amizade, amor e companheirismo entre os irmãos Binewski, salve as raras exceções. E eu só posso culpar a forma que os seus pais os criaram (troféu do ano de família fodida vai para: os Binewski!).


“Geek Love” é como a chama de uma vela para uma mariposa: você sabe que essa história não vai acabar em um final feliz, mas a chama é tão cativante que você é atraído a ela, levando ao seu derradeiro fim. 

“Estávamos todos nervosos com uma antecipação não declarada. Acelerávamos em direção a alguma coisa que não sabíamos o que era.” (Página 181).

Um dos conceitos apresentados neste livro é o que é ser normal. Algo completamente relativo, já que para os Binewski, completas aberrações, quem é normal na verdade é o “estranho”. Temos a necessidade de encaixar tudo e todos, incluindo nós mesmos, em padrões - o que na maior parte das vezes é o que causa desentendimentos e preconceitos. 


A sociedade dita que devemos ser originais, porém isso muitas vezes significa estar fora dos padrões, o que cai em um paradoxo: precisamos ser diferentes, porém ser diferente é ruim por não nos encaixarmos em uma categoria específica. 

Mutilações, tabus, incesto, fanatismo religioso, relacionamentos abusivos, inveja, prostituição, ódio, gore, sobrenatural e morte compõem “Geek Love”. Vai perder o espetáculo?

Autora: Katherine Dunn
Editora: Darkside Books
Número de páginas: 419
Classificação: ★★★★★♥/✰✰✰✰✰ 

*Livro cedido gentilmente pela editora*

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