sexta-feira, 21 de outubro de 2016

[Resenha] Confissões do Crematório

Título: Confissões do Crematório

Título original: Smoke Gets In Your Eye 

Autor: Caitlin Doughty

Editora: Darkside Books

Número de páginas: 260


Sinopse: “Uma menina nunca esquece seu primeiro cadáver.” – Caitlin Doughty Um livro para quem planeja morrer um dia. Morrer é a única certeza da vida. Então, por que evitamos tanto falar sobre ela? A morte é inevitável, sentimos muito. Mas pelo menos, como descobriu Caitlin Doughty, ficar a sete palmos do chão ainda é uma opção. ''Confissões do Crematório'' reúne histórias reais do dia a dia de uma casa funerária, inúmeras curiosidades e fatos históricos, mitológicos e filosóficos. Tudo, é claro, com uma boa dose de humor. Enquanto varre as cinzas das máquinas de incineração ou explica com o que um crânio em chamas se parece, Caitlin Doughty desmistifica a morte para si e para seus leitores. O livro de Caitlin – criadora da websérie Ask a Mortician e da – levanta a cortina preta que nos separa dos bastidores dos funerais e nos faz refletir sobre a vida e a morte de maneira honesta, inteligente e despretensiosa – exatamente como deve ser. Como a autora ressalta na nota que abre o livro, “a ignorância não é uma benção, é apenas uma forma profunda de terror”. Caitlin Doughty é agente funerária, escritora e mantém um canal no YouTube onde fala com bom humor sobre a morte e as práticas da indústria funerária. É criadora da websérie Ask a Mortician, fundadora do grupo The Order of the Good Death (que une profissionais, acadêmicos e artistas para falar sobre a mortalidade) e também autora de Confissões do Crematório.

Defina o livro com uma frase: "Um livro para quem planeja morrer um dia."


Foi bem mais difícil escrever essa resenha do que eu imaginava, afinal de contas como falar sobre um assunto que nenhum de nós experimentou, ainda


Caitlin Doughty é uma blogueira, youtuber e autora, você deve estar pensando: “nossa como ela é tudo isso e eu nunca ouvi falar dela?” Bom... A resposta talvez seja que o tipo de assunto que ela trata não seja o mais “agradável” ainda mais levando em consideração que ela é uma agente funerária e seu assunto preferido é nada mais, nada menos que: le mort

A maneira com que a Caitlin enxerga a morte é diferente da maioria das pessoas, tudo começou devido a um “trauma” de infância. Quando ela tinha apenas 8 anos presenciou a morte de uma garotinha em um terrível acidente, ela foi retirada da cena rapidamente por seus pais e o assunto se tornou um tabu. Com esse evento, ela passou a ser assombrada pelo medo da morte, tanto sua quanto a de seus parentes, por isso desenvolveu hábitos estranhos, como babar na gola da própria camiseta – para que a morte fosse “afastada”. 



“[...] isso não teria mudado o medo que me infectara. Eu já tinha começado a ver a morte em todo lugar. Ela morava na extremidade da minha visão periférica, uma figura obscura e com capa que desaparecia quando eu virava o rosto para olhar.” (página 46) 


Com o passar dos anos ela reverteu esse medo ao fascínio. Após se formar em História Medieval pela Universidade de Chicago (com a tese: “In Our Image: The Supression of Demonic Births in Late Medieval Witchcraft Theory) ela resolveu começar a trabalhar em um crematório para ter um contato mais direto com a morte, e por sua vez, entendê-la melhor. 


“Mas aquilo era realidade. Até então, eu não tinha entendido de verdade que ia morrer, que todo mundo ia morrer. Não sabia quem mais tinha essa informação debilitante. Se as outras pessoas sabiam, questionei, como podiam viver com aquele conhecimento?” (página 45) 



Esse livro se trata de uma obra de não-ficção, mais especificamente de um livro de memórias e irá narrar alguns acontecimentos marcantes na vida de Caitlin durante o início de sua carreira como agente funerária. A narrativa conta com diversas curiosidades interessantes sobre como diferentes culturas encaravam, e encaram, a mortalidade – chegando ao absurdo de comer cadáveres, não vamos entrar nesse assunto, vou deixar a curiosidade fazer com que vocês leiam o livro. 

Também é importante ressaltar que de modo geral, estamos nos distanciando cada vez mais do que nos aguarda no fim da vida. Seja fingindo para nós mesmos que somos imortais ou tratando a morte como um tabu, ao invés do que realmente é, natural e inevitável. 

Caitlin mostra como funciona a gigantesca máquina da indústria da morte nos Estados Unidos, que apenas visa o lucro absoluto. Não há compaixão nem consideração pelas famílias que estão passando por um momento tão delicado, estas indústrias apenas se importam em extorquir o máximo de dinheiro possível, sem nem ao menos levar em consideração que o seu próprio corpitcho vai estar nessa posição “vulnerável” um dia. 

A narrativa da Caitlin é delicada e divertida, ela consegue entrar nos confins da sua mente e explodi-la completamente, mudando a forma de enxergar nossa mortalidade e nos fazendo, inevitavelmente, pensar no “fim”. 

Caitlin tem um canal no YouTube (Ask a Mortician), onde fala sobre a mortalidade humana, trazendo diversas curiosidades e respondendo diversas perguntas, sempre de uma maneira divertida, informativa e além de tudo, realista. 


Além disso, ela fundou “The Order Of The Good Death”, um grupo da indústria funerária que une profissionais, acadêmicos e artistas que exploram maneiras de preparar uma cultura com aversão à morte para a inevitável “luz no fim do túnel”. Este grupo tem o intuito de fazer com que a morte se torne parte da vida das pessoas, fazendo com que encaremos nossos medos (relacionados à morte) de frente, já que a morte é uma coisa natural ligada à vida, porém esse medo exagerado e o terror da cultura moderna, não são. 


Nós tememos a morte pois é um acontecimento desconhecido, fomos condicionados a temer o desconhecido desde que o mundo é mundo, porém devemos aceitar o fato de que não ficaremos aqui para sempre, uma hora teremos que abandonar tudo, seja de repente ou após uma longa jornada. Cabe a nós mesmos preparar nossos familiares (e nós mesmos) para a morte. Não adianta temer uma coisa que está fadada a acontecer, se não você irá acabar vivendo uma vida temendo a morte, e quando chegar sua hora você não terá vivido plenamente. 

Depois dessa resenha cheia de filosofadas, deixo vocês com a seguinte citação (é para refletir, viu crianças?): 



“Olhar diretamente nos olhos da mortalidade não é fácil. Para evitar isso, nós escolhemos continuar vendados, no escuro em relação às realidades da morte. No entanto, a ignorância não é uma benção – é só um tipo mais profundo de pavor.” (página 13)

2 comentários:

  1. Que interessante. Não pensei que fosse profundo assim. Eu comprei o livro e está na lista de leitura. É um fato que está realmente fadado a acontecer, mas ainda assim é estranho falar disso. rs
    Adorei a resenha, bem expressiva e cheias de filosofias.
    Parabéns.

    Beijos

    casinhadaliteratura.blogspot.com

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    1. Oi Rachel, tudo bem? Vale muito a pena ler! Comecei achando que era uma coisa e no final fiquei filosofando loucamente, acho que até queimei alguns neurônios que não eram usados a um tempo kkkk Obrigada! <3
      Beijos~

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