sexta-feira, 14 de outubro de 2016

[Resenha] Hellraiser - Renascido do Inferno


Título: Hellraiser

Título original: The HellBound Heart

Autor: Clive Barker

Editora: Darkside Books

Número de páginas: 160

Skoob: Adicione a sua estante

Sinopse: Escrito em 1986, Hellraiser – Renascido do Inferno apresentou ao público os demoníacos Cenobitas, personagens criados por Clive Barker que hoje figuram no seleto grupo de vilões ícones da cultura pop como Jason, Leatherface ou Darth Vader. Toda a perversidade desses torturadores eternos está presente em detalhes que estimulam a imaginação dos leitores e superam, de longe, o horror do cinema. Clive Barker escreveu o romance Hellraiser – Renascido do Inferno (The Hellbound Heart, no original) já com a intenção de adaptá-lo ao cinema. O cultuado filme de 1987 seria sua estreia na direção, e ele usou o livro para mostrar todo seu talento como contador de histórias a possíveis financiadores. Nas palavras do próprio Barker: “A única maneira foi escrever o romance com a intenção específica de filmá-lo. Foi a primeira e única vez que fiz assim, e deu resultado”. De leitura rápida e devastadora, Hellraiser – Renascido do Inferno conta a história de um homem obcecado por prazeres pouco convencionais que é tragado para o inferno. Inspirado nas afinidades peculiares do autor, o sadomasoquismo é um tema constante em sua arte. Se você é fã de Clive Barker, precisa ler sua primeira obra-prima. 

Defina o livro com uma frase: Say my name, Say my name


Quem se diz gostar de terror e nunca ouvir falar das obras de Clive Barker merece passar as férias de verão no spa dos Cenobitas... O romance, originalmente “The Hellbound Heart” (traduzido porcamente como “O Coração Ligado ao Inferno”), foi escrito em 1986, e já nesta época o senhor Clive Barker tinha intenções de adaptar sua obra para o cinema. Um ano depois esse sonho se tornou realidade com um bônus: o filme foi um sucesso estrondoso de bilheteria, tornando-se um clássico do terror, porém, sem nunca alcançar o panteão das grandes franquias dos anos 80 e 90, como “A Hora do Pesadelo” e “Sexta-feira 13” (talvez pelo fato de tratar explicitamente de temas mais perturbadores, como sadomasoquismo e tortura, tornando-o menos atraente do ponto de vista mercadológico – só quero que fique claro que eu prefiro o Tenderhead acima do zumbi bombado ou do pedófilo carbonizado).


Você, caro leitor, de férias no spa de tortura Cenobita™, deve estar se perguntando do que se trata essa história tão infame... 

O livro irá contar a história de um homem, não pera ai.. Pensando bem acho que quem realmente rouba a cena desse livro é a querida “Caixa de Lemarchand” (também conhecida como “Caixa das Lamentações”). Uma caixa de quebra-cabeça com diversas desgraças prontas para serem liberadas, dentre as desgraças existe a chamada “Configuração do Lamento” que é a mais conhecida e inclusive a que é abordada nos filmes (significando que existem mais de uma configuração para um plano maldito diferente, oba!). Basicamente a caixa é um dispositivo mecânico que atua como uma porta – ou chave de uma porta – para uma outra dimensão. 


Parabéns, você resolveu o enigma! Agora você pode atravessar a ponte interdimensional e zanzar pelo inferno enquanto os demônios se divertem brincando de gato e rato com você! 
 

A caixa foi criada por Phillip Lemarchand, um fabricante de brinquedos francês do século XVIII. Tudo era maravilhoso e normal até o dia que o senhor Lemarchand, vulgo trouxa, cria um mecanismo para um aristocrata rico que é obcecado por magia negra. Dá para imaginar que as coisas não deram muito certo, visto que a caixa abriu a porta de entrada para Pinhead e sua trupe de “demônios”, esses danadinhos que prometem causar altas encrencas para as infelizes almas curiosas (oi sessão da tarde).

“Por que, então, ele estava tão aflito de observá-los? Seriam as cicatrizes que cobriam cada polegada dos corpos deles, a carne cosmeticamente perfurada, cortada e infibulada, sendo a seguir coberta de cinzas? Seria o odor de baunilha que eles traziam consigo, a doçura que mal conseguia disfarçar o fedor que havia por detrás? Ou seria que, conforme a luz aumentava e ele os examinava mais atentamente, não viu nada de alegria ou mesmo de humanidade em seus rostos mutilados, apenas desespero e um apetite que fazia suas entranhas se retorcerem?” (Página 17)

Falando em trupe de demônios, você também deve estar se perguntando o que são Cenobitas. “Cenobita” vem do latim “Seincontryousfodêous” - com o perdão do neologismo – mentira, “Cenobita” significa “membro de uma ordem religiosa”, sendo esta a Ordem de Gash, uma organização sem nenhum tipo de ligação ao inferno ou qualquer religião conhecida (epa, espera um pouco... Demônios que não tem ligação com o inferno? Oi?). Esta ordem é comandada pelo “O Engenheiro” (quem quer que ele seja) e pratica a arte do hedonismo, que tem o objetivo de atingir patamares imensuráveis de dor através de um tipo de tortura inimaginável, associadas ao inferno particular de cada vítima (BOOM, daí a associação à demônios). Resumindo, são o tipo de “entidade” que você não vai querer invocar acidentalmente... 


O mais conhecido dos Cenobitas é o nosso querido Pinhead, ele age como líder, ou até mesmo mais como um gerente. Ao contrário de outros “monstros” do cinema, os Cenobitas até que são criaturas bem benevolentes, sendo capazes de negociar a alma de possíveis candidatos para a vaga de torturado do mês, porém eu não contaria com a “bondade” deles, já que também são um pouco, digamos, voláteis. 

A narrativa começa com Frank, a personificação de alguém babaca. Ele é um canalha ninfomaníaco, que vive viajando pelo mundo – com Deus sabe lá que dinheiro – em busca de prazeres carnais, porém estes não o satisfazem mais. O cidadão número 1, Frank, esta preparando um ritual que envolve a resolução de um quebra-cabeça que promete prazeres além da compreensão humana. Porém o pobre menino só não sabia que: Ritual satânico + Oferendas + “Caixa de Lemarchand” = Prazeres Cenobitas. 

“Ele cometera um erro ao abrir a caixa de Lemarchand. Um erro terrível.” (Página 26) 


O único ponto que Frank não contava era que a concepção de prazer dos Cenobitas fosse um poooouquinho diferente da dele... Depois desse contato inicial ele é arrastado para o inferno Cenobita para ser submetido à experiências sensoriais tão intensas que quase tomam o pouco, se é que ele chegou a ter alguma, de sanidade que o resta. Porém é após quase enlouquecer que os jogos realmente começam, Frank tem seu corpo mutilado, repuxado e perfurado, em um ritual que explora os limites entre o prazer e a dor, não vamos nos esquecer do detalhe que este ritual durará toda a eternidade. 

“Prazer era dor ali, e vice-versa. E ele o conhecia bem o suficiente para chamá-lo de lar.” (Página 67) 

Algum tempo depois o irmão mais novo de Frank, Rory se muda junto à sua esposa Julia para a casa abandonada da família, que por sinal foi o exato lugar em que Frank encontrou seu “fim”. Rory é um perfeito idiota, – pelo jeito essa família tem problemas sérios de caráter – e leva o relacionamento com a sua mulher mais como um prêmio do que algo feito por amor. Em diversos momentos eu o via mais como um cachorro que continua abanando o rabo para o dono mesmo depois de ser chutado inúmeras vezes, do que como um homem adulto independente. 

Já Julia é uma mulher que continua casada com um homem que ela claramente não ama por motivos que me fogem à compreensão. Ela é uma mulher bonita, inteligente, que tinha uma carreira e era bem sucedida, mas que no final das contas é uma bela filha da puta psicótica (ooooooooooooi Hellraiser II, tudo bem?). 

E como esquecer de Kirsty? A querida amiga de Rory eternamente presa à Friend Zone... Se ela não fosse tão pentelha até que eu me simpatizaria mais, ela é um exemplo perfeito de uma pessoa que só queria ajudar mas se meteu no lugar errado na hora errada. 

“Ela esperaria e observaria, como sempre esperara e observara, na ânsia de que tal enigma um dia chegasse às suas mãos. Mas, caso ele falhasse em se apresentar, ela não ficaria demasiado triste, por medo de que a reparação de corações partidos fosse um enigma que nem o tempo tivesse a habilidade de resolver.” (Página 150) 


Hellraiser” é um livro recheado de cenas bem terríveis, e se você assistiu o filme, garanto que elas se repetiram na sua cabeça algumas vezes. Eu amo ambos igualmente já que cada um tem o seu toque “especial”, claro que como em qualquer adaptação existem algumas diferenças e no livro, conhecemos um pouco mais sobre as motivações dos personagens, principalmente Frank, já que o começo do livro é muito mais “amarrado” do que o filme. 

Legenda: "Say my name, say my name; If no one is around you; Say baby I love you"

A única mudança “maior” foi no nome de Rory, que no filme de chama Larry e no seu relacionamento com Kristy, no filme ela é filha de “Larry” e não apenas uma amiga. 

“Sem lágrimas, por favor. É um verdadeiro desperdício de bom sofrimento.” (Página 128)


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