sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

[Resenha] Ciclo das Trevas #1: O Protegido

Título: Ciclo das Trevas – O Protegido

Título original: The Painted Man

Autor: Peter V. Brett

Editora: Darksidebooks

Número de páginas: 514


Sinopse: Às vezes há boas razões para ter medo do escuro... Assim que a escuridão cai, os demônios terraítas aparecem em grande quantidade, gigantes de fogo, madeira e rocha famintos por carne humana. Depois de séculos, os humanos definham com o esquecimento das marcas de proteção. Arlen, Leesha e Rojer, três jovens que sobreviveram aos ataques demoníacos, atrevem-se a lutar e encarar o perigo para salvar a humanidade. Em O Protegido – eleito um dos dez melhores romances fantásticos de 2008 pela Amazon UK –, a humanidade cedeu a noite aos terraítas e são poucos que ainda conseguem se esconder atrás das proteções mágicas, rezando para que elas os conduzam para mais um dia. Conforme os anos passam, as distâncias entre as pequenas vilas se aprofundam. Parece que nada pode deter os demônios ou aproximar a humanidade novamente. Arlen, Leesha e Rojer, crianças nascidas nesses pequenos vilarejos hoje isolados, não se conformam com essa situação. Um Mensageiro ensina ao jovem Arlen que o medo, mais que os demônios, tem paralisado a humanidade. Leesha vê a sua vida perfeita ser destruída por uma simples mentira e se torna uma coletora de ervas para uma velha mulher, mais temida que os demônios da noite. E a vida de Rojer muda para sempre quando um menestrel viajante chega à sua cidade e toca seu violino. Mas estes três jovens carregam algo em comum. São todos teimosos, que não se rendem à realidade imposta a eles e sabem que há muitos segredos e mistérios no mundo além do que lhes contaram. Para descobrir isso, eles terão que se arriscar, abandonar suas proteções seguras e encarar os demônios de frente. Juntos, os três podem oferecer à humanidade uma última, e fugaz, chance de sobrevivência. A impressionante estreia de Peter V. Brett – um dos mais aclamados autores de fantasia dos últimos anos – é uma aventura fantástica que cativa e emociona o leitor ao conduzi-lo a um mundo de demônios, escuridão e heróis. Uma bela metáfora sobre o medo e como precisamos confrontá-lo todos os dias para não deixar que ele nos domine e conduza a nossa vida.

Defina o livro com uma frase:  Um livro sobre coragem, superação, auto-descobrimento e determinação para alcançar seus sonhos – por mais impossíveis que eles possam parecer.





Finalmente eu criei coragem para escrever essa resenha! (*fogos*) Eu já tinha dito isso na resenha de “O Vale dos Mortos” (se você ainda não leu é só clicar aqui), que eu acho muito mais difícil escrever sobre algo que eu amei do que alguma coisa que eu tenha odiado... Li esse livro no meio do ano e desde essa época eu tento escrever algo que reflita os meus sentimentos mas nunca consigo... Oremos para que dessa vez eu consiga me expressar...

“O Protegido” faz parte da série “Ciclo das Trevas”, escrita por Peter V. Brett e publicada pela editora DarksideBooks em 2015 (vamos comemorar que o segundo volume, mais conhecido como a grande chaproca, já foi publicado e o terceiro – se tudo der certo – sai no primeiro semestre de 2017).

A narração é dividida entre os três protagonistas: Arlen, Leesha e Rojer. Três jovens que aprenderam desde cedo (e na base da porrada na cara) que a vida não é aquela maravilha que eles esperavam, claro que levando em conta o mundo em que eles vivem era de se esperar que tudo fosse de mal a pior, ainda mais ao cair da noite.

“[...]E, assim, o Criador, em sua sabedoria,
Lançou uma praga sobre seus filhos perdidos,
Abrindo as Profundas novamente
Para mostrar ao homem o erro de seus caminhos. [...]” (Página 250)

No universo criado por Brett, assim que o último raio de sol some no horizonte, demônios surgidos das profundezas do abismo emergem para devorar a carne dos desavisados. Eles são chamados de terraítas, demônios dos mais diversos tipos (como rocha, madeira, areia, água, fogo, etc). Eles são seres invencíveis, indestrutíveis e impiedosos, uma verdadeira força titânica que varre o mundo.

Nota: Terraítas meigos e fofinhos.


“E foi por isso que estávamos despreparados quando eles voltaram. Os demônios haviam se multiplicado com o passar dos séculos, até que o mundo se esqueceu deles. Então, trezentos anos atrás, eles emergiram das Profundas numa noite, em número gigantesco, para tomá-lo de volta. Cidades inteiras foram destruídas naquela primeira noite, enquanto os terraítas celebravam seu retorno. Homens revidaram, mas mesmo as grandes armas da Era da Ciência eram uma defesa inútil contra os demônios. A Era da Ciência chegou ao fim e a Era da Destruição se instalou. A Segunda Guerra das Trevas teve início.” (Página 56)

A única forma que os humanos encontraram de se proteger dos terraítas é por meio de símbolos protetores que, quando desenhados corretamente, impedem a entrada dos demônios nas casas e vilas, servindo como uma barreira.

“- Mas se você sabe que isso vai matá-lo, então por que fazê-lo?
- Porque prefiro viver poucos anos sabendo que sou livre do que passar décadas em uma prisão.” (Página 300)

Mesmo com a proteção desses símbolos, ninguém jamais matou um terraíta, e a única certeza que todos tem é que os demônios voltarão ao cair da noite. Por isso a humanidade vive com medo, e jornadas mais longas se tornaram praticamente impossíveis, pois eles estariam desprotegidos no meio do nada.

O reino de Thesa é dividido em diversos vilarejos e alguns fortes, onde estão concentradas as riquezas e as proteções mais fortes, porém não há uma grande comunicação entre os reinos, devido ao problema com os Terraítas.

Apesar desse pequeno problema existem pessoas corajosas o suficiente para se aventurar pelo reino, levando recados, mantimentos e diversas outras coisas. Essas pessoas são os mensageiros – pessoas mais respeitadas até que os próprios governantes.

“Esconder-se nem sempre é o bastante, Arlen. Às vezes, esconder-se mata algo dentro de você de tal forma que, mesmo se sobreviver aos demônios, não terá sobrevivido de verdade.” (Página 45)

Arlen, Leesha e Rojer, apesar de não serem mais diferentes, também não poderiam ser mais parecidos. Todos eles viviam bem em suas respectivas vilas – reparem que eu disse bem e não felizes – até que algo acontece que os obriga a sair do “conforto”, mudando suas vidas completamente.


“ Não há nada atrás de mim. Posso apenas seguir em frente.” (Página 380)

Arlen tem 11 anos e vive com seus pais em um pequeno e pacato vilarejo chamado Riacho do Tibbet. Ele ajuda seu pai nas tarefas diárias e destaca-se na arte de desenhar as proteções mágicas. Porém em um belo dia a merda é jogada no ventilador e Arlen se vê obrigado a sair do vilarejo em busca de maneiras de combater os demônios que destruíram sua vida, se tornando aprendiz de mensageiro.

“Envergonhado pela sua covardia, Arlen lenvantou-se e encarou o demônio. Ele gritou, um grito primevo, do fundo da alma, que rejeitava tudo que o demônio era e tudo que representava.” (Página 88)

Leesha é uma garota ao estilo Cinderela, ela vive na Clareira do Lenhador e ajuda seu pai com os negócios da família, porém é maltratada por sua mãe, que não vê a hora de casar sua filha e mandá-la para longe. Por ser a garota mais bonita do vilarejo, ela ela foi prometida ao homem mais “corajoso e popular” da vila, Gared (oi Gastão – Bela e a Fera). Como era de se esperar, falsos boatos começaram a se espalhar pelo vilarejo de Taubaté que mancharam a honra de Leesha, por isso ela abandona sua casa e busca refúgio com a ervanária, Bruna, uma velha ranzinza, sábia e que é temida por todos, até mesmo mais do que os próprios terraítas. Bruna a toma como aprendiz e inicia Leesha na arte medicinal.

“Porque os garotos recebem como prêmio a mesma coisa que para as garotas significa expulsão da cidade – respondeu Bruna. – Porque homens são governados pelo que acham de suas minhocas penduradas. Porque ele é um merda mesquinho, nocivo e cabeça de vento sem noção nenhuma do que tinha nas mãos antes.” (Página 138)

Rojer era um garoto de 3 anos que vivia feliz com seus pais, porém um dia seu vilarejo é atacado pelos terraítas e devido as proteções porcamente desenhadas, é dizimado. Ele é salvo por um Menestrel, que o acolhe e lhe toma como aprendiz.

Esse livro superou as minhas expectativas e muito, em um primeiro momento me intimidei com o seu tamanho, porém havia me interessado muito pela história. E o que eu posso dizer é que eu me arrependo de não ter lido essa obra fantástica antes – como sempre.


A narrativa cresce junto aos personagens. Antes que a vida deles mude, e até mesmo no começo de sua nova vida, o livro tem um tom mais jovem, porém com o passar dos acontecimentos fica claro que se trata de uma fantasia adulta.

“Bem-vindo à vida adulta. Toda criança descobre um dia qaue os adultos podem ser fracos e erram como qualquer outro. Depois desse dia, você vira adulto, querendo ou não.” (Página 226)

Peter V. Brett escreve de uma maneira tão sensacional e fluída, com uma linguagem fácil e acontecimentos tão envolventes que parece que eu estou participando de uma sessão de RPG – aliás, ele é fissurado em RPG, oremos – não digo nem que a narrativa se parece um filme pois quem já jogou RPG sabe que os cenários descritos pelo Mestre são completamente envolventes, claro que quando executados de uma maneira primorosa.

Se você acha que eu bati a cabeça e não faz a menor ideia do que eu estou falando, RPG significa “Role Playing Game”, e é um jogo colaborativo onde os jogadores devem, por meio de interpretação (teatral mesmo, daquelas bem toscas se for o caso) e elementos de sorte (aí que fode a nossa vida), superar os desafios propostos por um terceiro jogador, o Mestre. Esse Mestre (vulgo Deus supremo que controla o destino) não joga contra os jogadores, pelo contrário, sua missão é a de criar uma narrativa com desafios na medida para que os jogadores consigam superá-los sem, contudo, sentir que está tudo muito fácil – afinal a dona vida gosta de foder. Ou seja, RPG é um jogo colaborativo, onde todos se juntam com um único objetivo: sobreviver e matar geral diversão!

Voltando para o livro: Os personagens são extremamente cativantes – e em dado momento, divertidos – as tramas políticas são envolventes e o mundo criado é maravilhoso – tudo bem que existem demônios matando milhares todas as noites e eu não gostaria disso, mas vocês entenderam – não é atoa que Brett se tornou um dos meus autores favoritos.

“Não, pensou, o caminho que Cholie tomou não é melhor que o do meu pai. Quando eu morrer, será porque algo me matou, não porque desisti.” (Página 169)
  

Andei pesquisando a opinião de algumas pessoas, e diversas delas disseram que o livro é arrastado em algumas partes e lento, pelo contrário: nos momentos em que não há ação intensa, você consegue sentir a tensão crescendo. As descrições de cenário e a construção das relações entre os personagens são estilo Stephen King, ou seja, são mesmo mais descritivas, porém é isso que torna a história tão sensacional, tão desenvolvida e completa. Se você  busca um livro raso e sem desenvolvimento, veio ao lugar errado...

“Não finjo ver o caminho, mas sei que está lá. Um dia, olharemos para trás e nos perguntaremos por que o erramos.” (Página 485)

O começo da narrativa é menos recheado de ação, até porque é preciso introduzir esse novo mundo ao leitor, em um certo ponto você pode até ficar pensando: “Ok, mas onde o autor quer chegar com tudo isso?”. Só digo uma coisa: tenham paciência e continuem lendo, pois Peter V. Brett cria uma bola de neve que desce uma montanha e vai aumentando de tamanho, até que ela se choca direto na sua cara, aí é tarde demais... você estará apaixonado pela escrita dele...

“Não há Salvador vindo nos resgatar, menestrel. Se quiser demônios mortos neste mundo, terá de matá-los.” (Página 439)

“O Protegido” é um livro sobre pessoas que levavam uma vida comum, tiveram ela destruída e se ergueram para juntar os pedaços e correr atrás de seus sonhos. Esse livro mostra como em um momento de desespero, precisamos de pessoas que tenham coragem e determinação para nos estimular a atingir o bem maior (somos um bando de maria vai com as outras covardes). E principalmente, mostra que se quisermos algo, devemos vencer nossos medos e buscá-lo nós mesmos.

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