sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

[Resenha] Dias Perfeitos

Título: Dias Perfeitos

Autor: Raphael Montes

Editora: Companhia das Letras

Número de páginas: 280


Sinopse: Sombrio e claustrofóbico, Dias perfeitos é uma história de um amor obsessivo e paranoico que consolida Raphael Montes como uma das mais gratas surpresas da literatura nacional. Após ler seu primeiro livro, Scott Turow, um dos autores policiais de maior prestígio no mundo, disse que Raphael está “entre os mais brilhantes ficcionistas jovens” da atualidade. Em Dias Perfeitos, Téo é um jovem e solitário estudante de medicina que divide seu tempo entre cuidar da mãe paraplégica e dissecar cadáveres nas aulas de anatomia. Num churrasco a que vai com a mãe, contrariado, Téo conhece Clarice, uma jovem de espírito livre que sonha tornar-se roteirista de cinema. Clarice está escrevendo um road movie de nome 'Dias perfeitos'. O texto ainda está cru, mas ela já sabe a história que quer contar - as desventuras de três amigas que viajam de carro pelo país em busca de experiências amorosas. Téo fica viciado em Clarice - quer desvendar aquela menina diferente de todas que conheceu. Começa, então, a se aproximar de forma insistente. Diante das seguidas negativas, opta por uma atitude extrema - desfere um golpe na cabeça dela e, ato contínuo, sequestra a garota. Elabora então um plano para conquistá-la - coloca-a sedada no banco carona de seu carro e inicia uma viagem pelas estradas do Rio de Janeiro - a mesma viagem feita pelas personagens do roteiro de Clarice. Passando por cenários oníricos, entre os quais um chalé em Teresópolis administrado por anões e uma praia deserta e paradisíaca em Ilha Grande, o casal estabelece uma rotina insólita - Téo a obriga a escrever a seu lado e está pronto para sedá-la ou prendê-la à menor tentativa de resistência. Clarice oscila entre momentos de desespero e resignação, nos quais corresponde aos delírios conjugais de seu sequestrador. O efeito é tão mais perturbador quanto maior a naturalidade de Téo. Ele fala com calma, planeja os atos com frieza e justifica suas decisões com lógica impecável.

Defina o livro com uma frase: Ah... Nada mais lindo do que o primeiro amor – opa pera aí...


“Dias Perfeitos” é o romance consagrado de Raphael Montes. Vale lembrar que ele não é indicado para pessoas de estômago fraco ou aquelas que não gostam de finais que te viram de cabeça para baixo – apenas um aviso amigável antes de começarmos.

Nele, Téo, um estudante de medicina, demonstra suas tendências obsessivas, e aquele toque de psicopatia, logo nas primeiras páginas. Ele mora com a sua mãe, que é cadeirante, por isso depende muito dele. Ele faz medicina em uma faculdade renomada do Rio de Janeiro e é um dos melhores alunos da turma, porém ele não é feliz, não se sente realizado com nada que faz, ele está preso a uma rotina tediosa e repetitiva. Téo é uma pessoa sem sentimentos, ele não ama a mãe, pelo contrário, não vê a hora de se ver livre dela, apesar de todo o amor e carinho que ela dá. Ele não interage com nenhum dos colegas – vulgo escória da sociedade – e a única “amiga” dele é uma mullher chamada Gertrudes – talvez eu tenha esquecido de mencionar que ela é um dos cadáveres utilizados nas aulas de anatomia. Porém não deixem esse pequeno detalhe prejudicar a imagem dela. Ela vive dando altos conselhos para Téo e eles batem um puta papo (então tá né).

“Sentia-se um monstro. Não gostava de ninguém, não nutria nenhum afeto para sentir saudades: simplesmente vivia.” (Página 12)

Um belo dia, Téo é arrastado à uma festa com a sua mãe, e acaba conhecendo Clarice, uma garota que estuda história da arte, porém sua verdadeiro sonho é se tornar roteirista de cinema. Ela tem uma personalidade forte, é um espírito livre, que não leva desaforos para casa, e é uma puta personagem forte.

Téo se “apaixona” perdidamente por Clarice, se tornando obcecado por ela ao ponto de descobrir onde ela estuda e ficar seguindo ela o dia todo, só para descobrir onde ela mora. Essa ausência de emoções em Téo é “curada” por uma enxurrada chamada Clarice, ele precisa dela para ser feliz e ela precisa dele pois ambos foram feitos um para o outro – pelo menos na mente problemática de Téo.

Téo é frio e calculista e só consegue pensar que Clarice deve ficar com ele. Agora imaginem: você conhece um cara em uma festa, esse cara te persegue e você descobre isso. Quem conseguiria despertar um sentimento diferente de medo e repulsa? Obvio que Clarice não quer ficar com Téo, porém algumas coisas acontecem e Téo sequestra Clarice.

“Ela o havia realocado no mundo. Téo continuava a desprezar a raça humana, mas ao menos agora era um desprezo desinteressado, quase piedoso. Finalmente, sentia amor.” (Página 99)

A narrativa do livro é muito instigante, é impossível não ficar curiosa com o que vai acontecer. Eu gostei do livro, porém não amei. Em alguns momentos achei que a narrativa apresentava alguns toques de “Misery” de Stephen King (tem resenha no blog, é só clicar aqui) e “Psicose” de Robert Bloch. A forma com que Téo lida com o sequestro, o fato de Clarice estar escrevendo um roteiro e Téo a forçar a continuar escrevendo (Annie Wilkes ficaria orgulhosa). Todo o clima do livro, me lembrou muito ambas as obras.

Não estou falando que “Dias Perfeitos” é uma cópia dessas obras, mas foi um pouco de “eeeei espera ai... Eu já vi algo parecido em algum lugar...” em grande parte da narrativa. Porém o final vira totalmente a história e faz com que todos as possíveis teorias, feitas ao decorrer da narrativa, sejam destruídas (sério, chego a ficar com medo do que tem dentro da cabeça da pessoa que pensou em toda essa desgraça).

Téo me lembrou muito o personagem Norman Bates (Psicose), apesar de não ter nada a ver com ele (o “amor” pela mãe dele que eu o diga). Chega a ser cômico, mas imagino um encontro entre os dois em um café, onde ambos estão envoltos em uma animada conversa sobre as suas paixões.

A parte em que há um pedaço do roteiro de Clarice foi tão bem elaborada que eu até achei que tivesse recebido um livro rasurado (peguei esse livro por uma troca no skoob). Tudo foi tão bem feito que eu conseguia imaginar perfeitamente Téo sentado em uma poltrona, corrigindo e fazendo comentários construtivos “engraçadinhos”.

De um modo geral esse livro é “estar preso em algum lugar apertado e escuro” - tipo uma mala de viagem, sacumé - ele apresenta um começo muito intenso, que esfria um pouco ao decorrer dos capítulos, e pega fogo no final de uma maneira que destrói nossos cérebros e que nos deixa com a seguinte frase em mente: Puta que pariu, eu não acredito nessa merda...

2 comentários:

  1. Olá!!! Eu gostei muito desse livro! Passei a leitura inteira odiando o Téo e quando terminei o livro me lembro que não curti muito. Mas depois de alguns dias refletindo acabou que num estalo eu "PQP" esse livro é genial...kkkk
    Adorei tua resenha! 😚

    www.lendo1bomlivro.com.br;

    Instagram :) @lendo1bomlivro;

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oii! Tudo bem? Sim!! Fica difícil defender o Téo... O final me deixou transtornada, fiquei olhando pro teto um bom tempo ahahhaahha
      Obrigada! :)
      Beijos~

      Excluir