sexta-feira, 26 de maio de 2017

[Resenha] O Oceano No Fim Do Caminho

“Ninguém realmente se parece por fora como o que é de fato por dentro. Nem você. Nem eu. As pessoas são muito mais complicadas que isso. É assim com todo mundo.” (Página 129)


Não se deixem enganar pela premissa de um livro infantil. Em “O Oceano no Fim do Caminho” Neil Gaiman mistura a inocência infantil com temas adultos como traição, melancolia, solidão e a predileção por um filho.

“Adultos seguem caminhos. Crianças exploram. Os adultos ficam satisfeitos por seguir o mesmo trajeto, centenas de vezes, ou milhares; talvez nunca lhes ocorra pisar fora desses caminhos, rastejar por baixo dos rododendros, encontrar os vãos entre as cercas.” (Página 70)

Nosso protagonista não tem nome – aliás, tem. Mas em momento algum descobrimos qual seria – e está voltando de um funeral, transtornado pela falta de memórias da infância, tanto que resolve seguir por um caminho diferente, da qual ele conhecia bem quando era criança. Isso o leva até a sua antiga casa e o faz descer a rua até a fazenda Hempstock.


Ele só se lembra de sua amiga Lettie Hempstock e do Oceano, que na verdade era um lago. Então enquanto espera por ela na varanda, ele se senta e admira o lago. É ai que começa o mergulho em suas memórias de quando ele tinha 7 anos.

Ele sempre foi um garoto que preferia os livros ao contato com outras pessoas, por isso nunca teve um amigo, pelo menos não até Lettie – alguém aqui consegue se relacionar? Hahahah *chora

O primeiro tapa na cara desse livro foi a amizade e o amor que ele sentia pelo seu gatinho preto de estimação (Fofinho, R.I.P), que é atropelado por um homem de terno branco, o novo inquilino. Esse acontecimento é o marco para que a vida de nosso protagonista desande de uma forma desgraçadora e ao mesmo tempo tenha aquele gostinho doce beeeeeeeem lá no fundo.

“Eu me perguntei, como frequentemente me perguntava quando tinha aquela idade, quem eu era e o que exatamente estava olhando para o rosto no espelho. Se o rosto para o qual eu olhava não era eu, e sabia que não era, porque eu ainda seria eu não importava o que acontecesse ao meu rosto, então o que eu era? E o que estava olhando?” (Página 63)

Após alguns acontecimentos, o Sr. Protagonista faz amizade com Lettie e descobre que ela e a sua família são usuárias pesadas de ácidos e alucinógenos. Mentira, mas não vou contar o que acontece depois por motivos de: levanta essa bunda da cadeira e vai ler logo esse livro! :)


Se você já leu/assistiu “Coraline”, aqui a vibe é bem similar – aposto que depois de conhecer “Coraline”, você também passou a olhar para botões de outra forma – Temos aquele falso senso de segurança e felicidade por algo que não deveríamos cobiçar, ao mesmo tempo que algo muito misterioso, bizarro e maior do que qualquer coisa que nossa imaginação possa conceber começa a acontecer. Quem poderia te ajudar se ninguém acredita em você? Tem como se desesperar mais?

Me surpreendi com essa história ao mesmo tempo que achei alguns pontos pouco explicados. Pelo meu parco conhecimento das obras de Neil Gaiman, tive a impressão que ele gosta de criar universos que transmitem um ar de “mal estar”, como se você estivesse se olhando no espelho e a sua cara começasse a derreter. Porém, ninguém ao seu redor nota, apenas você. Para resumir a história é difícil explicar o que acontece, só lendo para ter sua cara derretida e entender o que eu estou querendo dizer aqui.

“O Oceano no Fim do Caminho” é um daqueles livros que te deixa com mais perguntas do que respostas, porém essa incerteza só serve para dar tom ao livro e profundidade – por sinal, diria que esse livro é da profundidade de um oceano *BaDumTss. Este livro também acende uma centelha de esperança por um mundo melhor, onde nenhum mal existe... Ah, pelo menos nós podemos sonhar, não é mesmo?


Autor: Neil Gaiman 
Editora: Intrínseca
Número de páginas: 208 
Classificação: ★★★★/

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