sexta-feira, 4 de agosto de 2017

[Resenha] Mestre das Chamas

"A humanidade é um germe que prospera no limite da catástrofe."



Em “Mestre das Chamas” somos introduzidos a um universo contemporâneo apocalíptico. Porém, nada de zumbis ou outros seres sobrenaturais. O grande protagonista desta história é um esporo: Draco incendia trichophyton.

Este esporo, apelidado carinhosamente de “Escama do Dragão”, infecta as pessoas e deixa manchas negras com pontos dourados. Ah, esqueci de mencionar: causa combustão espontânea nos infectados. Ninguém sabe como essa doença começou, porém após a instalação do, ninguém mais passa a se importar como tudo foi desencadeado, apenas com a sua própria sobrevivência.

Harper Grayson é uma enfermeira que trabalha na enfermaria de uma escola infantil. Assim que os primeiros casos de Escama de Dragão começam a matar pessoas, Harper se sente na necessidade de ajudar o próximo e vai trabalhar em um hospital, cuidando dos infectados.

Após alguns eventos quentes no hospital, Harper volta para casa e engravida. Como se não bastasse, ela contrai a Escama de Dragão, é abandonada pelo marido Jacob – de quebra ainda descobre alguns esqueletos escondidos no armário do marido.

Inicialmente, ambos combinaram que se fossem infectados, se suicidariam de forma indolor, não permitindo que eles morressem em agonia nas chamas. Porém, após engravidar, Harper percebe que quer viver, não por ela, mas sim pela criança que ela carrega no ventre.

Tendo um alvo pintado nas costas por ser portadora da escama – já que existe um grupo de pessoas que quer eliminar todos os portadores – ela é obrigada a fugir. No meio do caminho, ela encontra um homem que se auto-denomina “Bombeiro” e é recrutada para fazer parte do seu grupo de desajustados fumegantes.


Me surpreendi muito com esse livro – que foi meu primeiro livro do autor. Porém se você faz parte do clube de pessoas que não gosta de cenários descritivos – ao estilo Stephen King – este livro pode ser um pouco difícil para você. Mas, se você é assim como eu, vai amar as descrições de Hill. Em alguns momentos elas eram tão detalhadas e reais que temia que ao virar a página encontrasse uma mancha escorrendo sangue.

Um dos pontos mais altos deste livro é a capacidade que Joe Hill tem de encaixar, com maestria, pessoas completamente normais, em cenários apocalípticos e tornar esses cenários totalmente críveis. O fato de serem pessoas comuns presas em situações extraordinárias, só torna mais assustador a idéia de que isso pode acontecer com qualquer pessoa, basta só um empurrãozinho da natureza – fator desgraça.

Temos mania de comparar autores, imaginem o quão difícil fica não fazer isso quando se trata de pai e filho. Algumas pessoas dizem que Joe Hill é a versão mais resumida de Stephen King. Discordo, Hill tem seu próprio estilo, e sua narrativa é bem descritiva e informativa, apresentando muitas divagações, conflitos internos e lembranças dos personagens. Apesar de serem pai e filho, ambos são pessoas completamente diferentes, e isso é refletido na forma com que eles escrevem.

Ao longo do livro, Harper cita diversas obras literárias como Harry Potter, Mary Poppins e Senhor dos Anéis. Achei isso sensacional, ainda mais por ela ser uma leitora fanática. Essa sua característica aproxima o leitor da obra, pois faz com que nos identifiquemos e reconheçamos as referências citadas.

Se vocês já leram este livro deixem um comentário sem spoilers falando o que vocês acharam da J.K. Rowlin – entendedores entenderão...

Outro ponto a ser elogiado, e muito, é a tradução. As expressões foram muito bem traduzidas. Elas se encaixam ao português e aquelas que não têm uma tradução literal e perderiam o sentido ao serem traduzidas, foram mantidas em inglês, com sua tradução logo a seguir. Precisamos de mais livros assim, chega de aportuguesar expressões que não fazem o menor sentido. #fimdoaportuguesamento

Um dos pontos mais interessantes de “Mestre das Chamas” é que se trata de um livro sobre as pessoas e não apenas sobre o apocalipse. Obviamente a desgraça está presente, porém o terror real é a forma com que pessoas comuns reagem frente a uma situação tão extrema quanto o “fim da civilização”. Seres humanos amam tragédias e são fascinados pelo fogo, junte os dois e adicione um patógeno de fácil transmissão e você tem o fim do mundo – com estilo.

Todos os personagens são extremamente cativantes e bem desenvolvidos. É impossível não se simpatizar com Harper e Nick, ao mesmo tempo que os “vilões” desta história me deixaram fervendo de raiva – calma, cantei um pouco e já estou me sentindo melhor.

A realidade de “Mestre das Chamas” nos faz questionar o que aconteceria na mente das pessoas, ao serem arrancadas do conforto do comum, do habitual. Que botão é apertado no cérebro para que a histeria se instale e torne uma pessoa inicialmente “sã”, em alguém completamente fanático e alienado?

O problema principal da histeria, que toma conta de centenas de milhares de pessoas, é que ela faz com que sejam tomadas decisões em massa que só pioram o que já estava uma merda. Adicione nessa equação o egoísmo e recursos limitados e teremos um clássico exemplo de pessoas matando umas as outras por um pouco de alimento ou água que, se divididos, poderiam salvar diversas pessoas, não apenas uma.

O grande vilão desta história não é o Draco incendia trichophyton e sim os próprios seres humanos. Em meio ao caos, o que é certo ou errado? Será que você é capaz de qualquer coisa para sobreviver?

“Mestre das Chamas” é o clássico exemplo de que estamos a um espirro de distância do caos e da destruição da humanidade. Basta apenas um desastre, uma situação extrema, para que o pior da natureza humana seja invocado e sejamos imersos no desespero completo.

Um extra que eu não percebi, mas soube por diversas pessoas. É a conexão entre o universo de “Mestre das Chamas” e dos livros da série “A Torre Negra” de Stephen King. O quão sensacional isso é? Mais um motivo – além dos outros 999 – para lermos “A Torre Negra” para ontem.

Autor: Joe Hill
Editora: Arqueiro
Número de páginas: 592
Classificação: ★★★★★♥/✰✰✰✰✰

*Livro cedido em parceria pela editora*

2 comentários:

  1. Hey, tudo bem?

    Eu sou fã de carteirinha de Stephen King, mas ainda não li nada de Joe Hill. Fiquei bem feliz quando soube do lançamento de Mestre das Chamas. Você é leitora, e sabe quando tem aquela sensação de que o livro será bom. Eu tive essa sensação, e sua resenha - muito boa, aliás, só me deixou ainda mais animado. Espero lê-lo em breve.

    Dicas do Jess

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    1. Oi Jessé, tudo bem?

      Eu estava na mesma situação antes de ler "Mestre das Chamas", mas é praticamente impossível não se apaixonar por uma ideia tão original quanto a que é apresentada aqui.

      Obrigada! :)

      Espero que você também se apaixone pelo Joe Hill.

      Bjs~

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