quarta-feira, 25 de abril de 2018

[Resenha] Lendas da DC #2: Batman - Criaturas da Noite

“Aquelas eram as ruas que seus pais haviam lutado a vida toda para melhorar. As mesmas ruas onde o sangue deles fora derramado. [...] Ele encontraria uma forma de recuperá-la. Era esse o manto que ele havia herdado.” (Página 25)


Em “Batman - Criaturas da Noite” teremos um jovem Bruce Wayne antes de ele sequer cogitar se tornar o vigilante de Gotham. Porém, seu senso de justiça faz com que ele se meta em uma confusão envolvendo a polícia e por sua vez, o coloca no caminho de uma garota problemática que mexerá com seu coração. 

Assim como em Mulher Maravilha - Sementes da Guerra, Bruce é apenas um eco de quem viemos a conhecer nos quadrinhos e filmes. Dada a proposta da série “Lendas da DC”, de criar histórias sobre as pessoas por trás dos grandes heróis que conhecemos isso até faz certo sentido. Porém, ainda não li um livro em que eu os enxergasse por detrás de suas versões juvenis. Se trocassem o nome dos protagonistas por qualquer outro, essa história passaria completamente longe de fazer referência ao universo de Batman. Por mais que tenham sido feitas referências, elas por si só não bastaram para construir um universo crível.


Por mais estranho que possa parecer, em certos momentos eu via Bruce mais como uma mulher do que um homem devido a forma com que ele agia e pensava. Não conseguia ver um garoto de 18 anos bilionário... Não sei se isso foi uma impressão bizarra minha ou se a maneira com que a autora o criou, o aproxima do ponto de vista feminino.

Os personagens secundários, apesar de extremamente bem representados - o que aparentemente se repete nesta série, grazadeus - não me cativaram. Mesmo os personagens “clássicos” da franquia são meros ecos que retém algumas características marcantes, como a moeda e Harvey Dent. O que todos têm em comum é justamente a sua falta de personalidade, que contribui na formação de uma narrativa rasa, em que tudo é resolvido com extrema facilidade. Nem o mordomo mais amado, Alfred, escapou de estar fora do personagem.

Acho interessante a releitura desses “clássicos”. Porém, fico decepcionada ao não encontrar algo inteiramente original e novo, ou fiel aos personagens que marcaram gerações.


Outra coisa que não aparece aqui é a personalidade sombria de Bruce Wayne, que foi tão bem retratada na trilogia do Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan… Apesar do tom “divertido” dos quadrinhos, a obra é margeada pelas trevas e pelo dilema interno dos personagens. Mesmo a animação da Warner que marcou a minha infância - e inspirou a autora - tem sua dose de depressão e conflitos internos. Seus personagens são complexos e multifacetados. Ao contrário do encontrado neste livro.

“O que sabe de fato a meu respeito? Será que alguém como você compreende de verdade o que é o desespero?” (Página)

Em certa parte, culpo o público alvo desta série. Mas ao mesmo tempo, não acredito que a idade deva definir a complexidade de uma obra. Já li muitos livros jovem-adultos que apresentam temáticas pesadas e além da faixa etária do público alvo - eu realmente espero que tenha sido o caso de um enredo raso.

Outro problema foi a previsibilidade da revelação do vilão, e ao contrário da trilogia Jovens de Elite da autora, não consegui me ver instigada pela história… Estava na cara o que ia acontecer no final e isso me deixou muito desgostosa…


Digo isso pois, após ler “Os Jovens de Elite”, ficou claro o talento de Marie Lu em criar personagens complexos e multifacetados… Por isso estava tão esperançosa quanto a este livro. Na minha cabeça, não podia pensar em uma autora melhor de YA para escrever sobre um dos heróis mais sombrios da DC do que a mesma pessoa que criou Adelina. A, doce decepção...

Uma coisa que me incomoda bastante nesta série “Lendas da DC” é que o subtítulo da obra, nesse caso criaturas da noite, é repetido incessantemente, assim como o nome dos protagonistas… Juro, chegou um momento que eu não aguentava mais ler a porra da palavra Bruce…

“No entanto, tudo que ele via estendido à sua frente era um oceano de luz, o coração reluzente de Gotham. Ele ainda não sabia o que o futuro lhe reservava, mas sabia que, fosse o que fosse, estava ali. Era um lugar que merecia proteção. Era sua casa.” (Página 239)

Outro problema foi o romance… Puta que pariu… O que o predecessor deste livro têm em comum com este volume é que também há um romance tosco e forçado. Até gostaria de comentar mais, mas seria spoiler… Só digo uma coisa: parece que os autores desta série estão usando a mesma fórmula nos seus finais...

Apesar da narrativa dinâmica de Marie Lu, que faz com que o livro acabe em um piscar de olhos, não consegui amar este livro. Mas também não o odiei. Só achei uma história padrão em que eu não vi Bruce Wayne em momento algum.

Em retrospecto, acabei gostando menos desse livro do que “Mulher Maravilha - Sementes da Guerra”, por conhecer melhor as histórias do Batman e a escrita da Marie Lu. Estava com altas expectativas e estas não foram alcançadas. Porém, de maneira alguma este livro é ruim. Só não é digno do talento da autora e da complexidade do vigilante de Gotham.


Autora: Marie Lu
Editora: Arqueiro
Número de páginas: 256
Classificação: ★★★/✰✰✰✰✰

*Livro cedido em parceria pela editora*

Nenhum comentário:

Postar um comentário