sexta-feira, 4 de maio de 2018

[Diário de Leitura] Lovecraft - Medo Clássico (Parte III)


Olá, você que acompanhou essa saga, que foi o meu primeiro contato com Lovecraft! É com enorme emoção - e sensação de vitória - que chegamos ao fim do meu diário de leitura de Lovecraft - Medo Clássico! Espero que vocês tenham aproveitado essa viagem aos confins do desespero e pesadelo tanto quanto eu - afinal, o que nóis gosta mesmo é de se desgraçar!

Quando você fica ansioso para terminar um livro logo - normalmente para começar algum outro dos 200 livros que você tem para ler - é que a narrativa se arrasta ou aparecem os contos maiores e mais complexos. Como a gente tem que se ferrar por querer terminar um livro logo, foi exatamente isso que aconteceu!

“Nas Montanhas da Loucura” retorna com a narrativa extremamente prolixa de Lovecraft, que se retirada, pouparia pelo menos umas boas 50 páginas de pura enrolação - confesso que eu até dei umas puladas quando começavam as incessantes descrições e termos geológicos bizarros - desculpe pedras, nada pessoal…


“[...] Já deveria estar mais indiferente agora; mas existem certas experiências e sugestões que cicatrizam fundo demais para permitir uma cura completa, deixando apenas alguma sensibilidade para que a memória inspire novamente todo o horror original.” (Página 265)

O conto começa ditando o tom paranóico e claustrofóbico da obra: um grupo de pesquisadores vai até o Ártico, procurar o que não deviam e acabam encontrando algo muito pior do que seus mais nefastos pesadelos. Cada linha só serve para aumentar ainda mais a tensão e a sensação de estarmos mergulhando em um poço sem volta. 

O pior é que o leitor se coloca no lugar dos pesquisadores e, mesmo sentindo em seu âmago que essa curiosidade é errada, não conseguimos parar de buscar um fechamento. De finalmente descobrir o que se esconde por trás das infinitas camadas de mistério que transcendem éons.

“É absolutamente necessário, em nome da paz e da segurança da humanidade, que alguns cantos caliginosos e mortos da Terra e certas profundezas insondáveis sejam deixadas em paz; de outra forma, as anormalidades adormecidas podem acordar para uma vida ressurgente, e pesadelos de blasfema sobrevivência poderão se retorcer e ascender de seus covis assombrosos rumo a novas e maiores conquistas.” (Página 279)

Um dos pontos altos deste conto é a expansão da mitologia criada por Lovecraft. Somos apresentados, em primeira mão, a uma espécie de “antigo”. Assim como temos uma aula de história diretamente do lugar que ela aconteceu.

A verdade é esmagadora. Certas coisas nunca deveriam ter sido descobertas. Você queria cosmicismo @? Pois toooooma! 

Em “A Sombra Vinda do Tempo” Lovecraft nos leva a mente de um professor que sofreu de amnésia durante cinco anos e recentemente “voltou a si”. Em meio ao desespero de não ter qualquer lembrança dos últimos cinco anos, ele segue o rastro de quem ele foi e tenta descobrir o que passou no tempo perdido, em que ele agiu de forma completamente aquém a seu caráter e desenvolveu hábitos estranhos, assim como uma sede de conhecimento pelo oculto - novamente aquela velha história de saber a hora de segurar a curiosidade...


“Era esse o mundo cujos ecos tênues e esparsos meus sonhos traziam a cada noite. Não tenho esperanças de fornecer qualquer noção real do horror e do pavor contidos em tais ecos, pois eram de uma qualidade completamente intangível.” (Página 324)

Lovecraft nos leva aos confins da amnésia e do medo, mostrando o quão longe nós mesmos podemos nos perder dentro do labirinto de nossas próprias mentes.

Há uma expansão do universo que vislumbramos nos outros contos. Uma nova “espécie” de antigos surge, e assim como no conto “Nas Montanhas da Loucura” aparenta não buscar a violência, mas sim a sabedoria - claro que por motivos que fogem do nosso conhecimento de primatas atrasados.

Um final digno de cair o cu da bunda para um livro que desperta os piores pesadelos. E, inclusive, cutuca aquela questão que nos arrepia até o último fio de cabelo: você ainda acredita que estamos sozinhos no universo? Que fomos os precursores da vida inteligente? Que a espécie mais inteligente a habitar o planeta foi humana? 

“[...] Se aquele abismo e o que ele contém forem reais, não há esperança. Então, verdadeiramente, paira sobre o mundo humano uma jocosa e incrível sombra vinda do tempo.” (Página 359)


No geral, o que eu posso dizer desse primeiro contato com Lovecraft? Definitivamente não foi o que eu esperava. Imaginei um terror mais “real” e gráfico, em que eu não ficasse tão presa a subjetividade do autor. 

Não vou dizer que amei esse livro do começo ao fim. Tive sérios problemas com ele, principalmente nos primeiros contos - acompanhem meu drama na Parte I do Diário de Leitura. Posso dizer que Lovecraft foi uma montanha-russa de amor e ódio. 

O que mais me atrapalhou ao ler este livro, foi a narrativa prolixa do autor - sinto que eu estou sendo prolixa, talvez seja a síndrome Lovecraft - que joga a favor e contra ele. Em certos momentos, o Lovecraft verborrágico faz com que a tensão do desconhecido aumente a níveis inimagináveis, já em outros parece pura enrolação e encheção de linguiça...

Agora consigo ver perfeitamente o peso do nome Lovecraft no gênero de terror, e como esse cenário seria completamente diferente sem sua escrita perversa que desperta os piores pesadelos.


O que o futuro me reserva? Com certeza continuar lendo contos do Sr. Lovecraft. E claro, não parar nele, quero aventurar-me em outros grandes nomes da literatura de terror. Quem sabe essa história de diário de leitura não vire um novo “quadro” no blog? Se vocês quiserem uma dica do meu próximo diário - sem previsão de lançamento - posso dizer que nosso desespero poderá ser refletido nos olhos negros de um corvo

Autor: H. P. Lovecraft
Editora: Darksidebooks 
Número de páginas: 416
Classificação (até o momento): ★★★★/✰✰✰✰✰

*Livro cedido gentilmente pela editora*

Nenhum comentário:

Postar um comentário