quarta-feira, 25 de outubro de 2017

{Outubro Trevoso} [Resenha] A Estrada da Noite

“Os fantasmas sempre nos alcançam, é impossível trancá-los do lado de fora.” (Página 131)


Cuidado com o que você compra pela internet...

“A Estrada da Noite” é surpreendentemente, o romance de estréia de Joe Hill, em que ele mostra seu talento para escrever histórias que nos deixam sufocados, com sede de mais desgraça. Ele segue pelo mesmo caminho do pai, ninguém menos que Stephen King, ao descrever cenários onde a linha do banal se mistura a do sobrenatural e somos deixados girando a toda velocidade no carrossel do fodido.

Judas Coyne é um excêntrico astro do rock com um fascínio por coisas obscuras e amaldiçoadas. Sua vida é comum, recheada de bodes pretos e cruzes invertidas (gótico suave), até o dia que seu assistente aparece com um anúncio de um produto um tanto quanto incomum: Uma mulher está vendendo o fantasma de seu padrasto.

“Jude colecionava essas pessoas quase exatamente do mesmo modo que o Flautista de Hamelin colecionava ratos e crianças. Compunha melodias tiradas da raiva, da perversão, da dor, e elas vinham a ele, deslizando com a música, esperando que ele as deixasse cantar junto.” (Página 32)


O que o sr. Coyne faz? Acha uma idiotice e fecha a página do anúncio? Claro que não, afinal de contas se fosse esse o caso não teríamos uma história. Jude fica fascinado e compra a porra do fantasma. Alguns dias depois sua tão aguardada encomenda chega, porém ele recebeu alguns brindes que ele não estava esperando...

O enredo da história é simples, porém com o seu desenvolvimento fica claro que não se trata de uma história rasa. Temos temas muito mais pesados, não que um fantasma com sede de vingança seja pouca coisa...

Jude é um personagem com inúmeras camadas. Ele não é apenas um gótico cinquentão revoltado que curte sair com mulher com metade da sua idade. Por trás dessa fachada que aparenta não se apegar a nada nem a ninguém, ele esconde uma pessoa que já sofreu muito na vida - clássica história do bad boy que tem um bom coração, mas um trauma o fez se tornar um bosta.

Com uma narrativa que mistura traumas de infância, esqueletos no armário e fantasmas. Joe Hill entrega uma obra que promete te deixar no limite da paranóia, com a sensação de que tem alguém te olhando do canto escuro do quarto.

O que é interessante é que em “A Estrada da Noite” a progressão do terror é gradativa. Começamos com um dia ensolarado que vai ficando mais escuro até estarmos mergulhados até o pescoço na merda as três da manhã. É impossível não se colocar na pele dos personagens e vivenciar plenamente o horror.


“Os mortos ganham quando a pessoa para de cantar e se deixa levar pela estrada com eles.” (Página 167)

Havia lido apenas Mestre das Chamas de Hill e agora comparando as duas obras, sua estréia e seu lançamento mais recente, posso dizer que a progressão da escrita de Hill é fenomenal. O que já era bom ficou ainda melhor.

Resolvi encerrar por aqui para que vocês, assim como eu, saibam o mínimo possível sobre essa espetacular história de assombração. Então, querido leitor, ande logo. Pegue seu casaco, calce suas botas. Chegou a hora de darmos um passeio pela Estrada da Noite. Só não prometo que esta seja uma viagem com volta...

Autor: Joe Hill
Editora: Arqueiro
Número de páginas: 320
Classificação: ★★★★★/✰✰✰✰✰
*Livro cedido em parceria pela editora

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