terça-feira, 4 de dezembro de 2018

[Resenha] O Diário de Myriam

“Alepo é uma cidade fantasma. Não tem mais ninguém. Às vezes, há senhoras de preto que correm do lado de fora, ou pessoas armadas. Mas só isso.”


“O Diário de Myriam” é um livro de não-ficção que você começa a ler com um sorriso no rosto enquanto acompanha a vida corriqueira de uma garotinha de apenas 6 anos. Porém, assim como as páginas são viradas rapidamente, a vida de Myriam muda completamente e sem aviso.

"Meu nome é Myriam, tenho treze anos. Cresci em Jabal Sayid, bairro de Alepo, onde também nasci. Um bairro que não existe mais." (Página 37)

Este livro esfrega na nossa cara a dor da perda da inocência de uma criança que se vê presa no meio de uma guerra que ela não entende, mas que é obrigada a encarar todos os dias, desde o primeiro bombardeio.

"Foi ali, pela primeira vez, que entendi o que significava a guerra. A guerra era minha infância destruída sob ruínas e fechada em uma caixinha." (Página 43)

Myriam é uma criança normal, que vai à escola, brinca com seus amigos e vive com seus pais e a irmã caçula. Porém, ela nasceu em Alepo, cidade do norte da Síria, e em 2012 ela passa a chamar de desconhecidos e inimigos pessoas que antes eram muito próximas a ela, só porque elas nasceram no bairro errado.


Não sou uma grande devoradora de não-ficções, mas é justamente por se tratar da realidade que cada palavra carrega um peso que acerta em cheio. É impossível não se colocar no lugar de Myriam e ver seu mundo caindo ao seu redor.

"Nunca os perdoarei pelo dia 10 de abril, e pela noite em que o míssil caiu onde eu tinha acabado de passear com papai, mamãe e Joelle." (Página 294)

Acredito que estamos acostumados a não darmos o valor adequado às situações de violência que acontecem diariamente. Devido a mil motivos, um deles sendo justamente a distância física e emocional das vítimas. “O Diário de Myriam” nos tira dessa zona de conforto, despertando um sentimento de extrema preocupação pela situação de tantas pessoas.

Uma das poucas coisas que me incomodou durante a leitura deste livro, se não a única coisa que me incomodou, foi que em alguns momentos eu não conseguia enxergar aquela menina de 6 anos escrevendo em seu diário. Pode ser uma certa implicância minha, mas acho que Lobjois pode ter pesado um pouco a mão no diário de Myriam. Claro… não espero uma obra prima da literatura vinda do diário cru de uma menina de 6 anos de idade, porém não consegui apagar totalmente a presença de Lobjois na narrativa…

"Tenho treze anos. Cresci rápido, rápido demais." (Página 297)

No geral, fica a minha indicação dessa obra densa, carregada de sentimento, tristeza e acima de tudo, esperança por dias melhores.

Autores: Myriam Rawick e Phillippe Lobjois
Editora: Darksidebooks
Número de páginas: 320
Classificação: ★★★★★/✰✰✰✰✰

*Livro cedido em parceria pela editora* 

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