sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

[Resenha] VOX

“- Há uma resistência? - Querida, sempre há uma resistência.”


“Minha culpa começou há décadas, na primeira vez que não votei, nas vezes incontáveis em que disse a Jackie que estava ocupada demais para ir a uma de suas passeatas, fazer cartazes ou ligar para meus congressistas.”

“VOX” é um grito que nos acorda durante a noite e nos faz enxergar que o pesadelo nunca esteve tão próximo de se tornar realidade...

O que aconteceria se um regime autoritário, misógino e fanático (que alega cunho religioso) se instalasse em uma sociedade? Apesar dos avisos, Jean virou as costas em momentos que ela poderia ter feito a diferença, alegando que nada aconteceria de fato. E então, um belo dia tudo vai pelo bueiro abaixo e quando ela se dá conta do tamanho do problema já é tarde de mais.


Após a instauração desse governo de extrema direita, aqueles que não são considerados “puros”, vulgo mulheres e homens que não se dobraram, gays, adúlteros, entre tantos outros, são castigados e enviados a campos de trabalho forçado.

Um dos maiores absurdos é que todas as mulheres só podem falar 100 palavras por dia, e para monitorar essa nova lei, todas elas, não importa a idade, recebem um bracelete que contabiliza e distribui uma punição, caso essa regra seja quebrada. Mulheres são reduzidas a sua esfera doméstica, servindo seus maridos em silêncio e obediência e se portando como meros objetos a serem utilizados a bel prazer de seus “donos” - alguém já ouviu um discurso parecido antes?

Em meio a essa dura realidade temos nossa protagonista, Jean. Uma neurocientista forçadamente aposentada, mãe de quatro filhos, sendo uma delas uma garotinha de apenas 7 anos, dois meninos gêmeos e um adolescente que é a própria reencarnação do tinhoso na terra.

Primeiramente, este livro me lembrou muito “O Conto da Aia” (apesar de eu só ter assistido a série), justamente pelo tom geral da obra, assim como o rebaixamento e punição àqueles que pensam de forma contrária ao famoso patriarcado misógeno e intolerante.


A realidade contida por trás do discurso autoritário presente em “VOX” me assusta. Imaginem um futuro onde uma política autoritária e conservadora se instalou, em que as minorias são esmagadas e seu direito de voz é retirado. Aposto que não foi tão difícil de imaginar, certo?

Vivemos um momento em que diversos grupos estão se manifestando e não calando mais suas vozes para as atrocidades que vivemos diariamente. Atualmente aqueles que se revoltam são apontados como doentes e que merecem a morte. O movimento feminista é deturpado e visto como uma coisa de “mulheres ruins que são histéricas e não se depilam”. O movimento negro não tem voz por não se tratar de um problema “real”, enquanto o movimento LGBTQ+ é visto como uma “doença a ser curada”.

Novamente: a realidade contida por trás das palavras de Dalcher me assusta. Estamos em um momentos que devemos tomar atitudes e não desacreditar a realidade como Jane fez.

Minha única crítica a este livro tem relação com o seu desfecho. Após acompanharmos a jornada e as reflexões de Jean, esperava que o gran finale fosse mais bem elaborado e desenvolvido. Os acontecimentos me pareceram corridos demais, o que acabou por deixar um gosto amargo na boca, mesmo após uma leitura tão impactante e importante.

“A única coisa necessária para o triunfo do mal é que os homens bons não façam nada.”


De qualquer maneira, “VOX” é uma leitura obrigatória, ainda mais levando em conta o momento em que estamos vivendo. Não se esqueçam: “Se fere a minha existência, serei resistência”.

Autora: Christina Dalcher
Editora: Arqueiro
Número de páginas: 320
Classificação: ★★★★★/✰✰✰✰✰

*Livro cedido em parceria pela editora*

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