segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

[Resenha] Princesa das Cinzas #1: Princesa das Cinzas

“Mas ela estava certa, em determinado sentido. Eu era uma princesa feita de cinzas, nada mais resta de mim para queimar. Chegou a hora de a rainha se erguer.” (Página 348)



Se você faz parte do grupo de burros velhos que já leu sua boa dose de fantasias YA, muito provavelmente este livro não te surpreenda nem um pouco.

A Rainha Vermelha, Neve e Cinzas, Trono de Vidro, A Queda dos Reinos, Uma Chama Entre as Cinzas, entre tantos outros títulos, apresentam situações, personagens e desenvolvimento do enredo muito similar com o que encontramos em “Princesa das Cinzas”. Porém, não é por isso que este livro é ruim ou construído apenas em clichês (a mão de marcar chega a coçar).


Mas nem tudo são rosas. Vou listar algumas coisas que você provavelmente vai achar que soam bem familiares:

Mundo de fantasia que envolve uma língua não conhecida, mas que no final não faz a menor diferença, já que apenas alguns termos são utilizados na nova língua.
  1. Reino conquistador que subjuga reinos menores e pacíficos.
  2. Morte dos pais da protagonista.
  3. Princesa x príncipe conquistador.
  4. Elementos mágicos.
  5. Quatro elementos com papel chave.
  6. Maldito pseudo triângulo amoroso.
  7. Rei extremamente cruel e sádico.
  8. “[...] solto o ar que não tinha me dado conta que estava prendendo” (página 72).
  9. Rebeldes.
  10. Protagonista aparentemente normal que descobre/vai descobrir que possui um poder.
  11. Morte de personagens coadjuvantes que na verdade ninguém se importa o suficiente, pois eles não foram desenvolvidos.
  12. Guardiões.
  13. Todo mundo pode te trair.
  14. Queda x ascensão.
  15. Título genérico do livro.


Enfim, como deu para perceber “Princesa das Cinzas” não ganharia nenhum prêmio de originalidade. Porém, nem tudo são cinzas (trocadilho intencional) e este livro prende sua atenção com uma narrativa fluida e intrigante, que promete te deixar ansiosa para a sua continuação “Lady Smoke” (publicação prevista para 2019).

Basicamente, a história do livro se passa em um reino fictício chamado Astrea, que vivia em paz sendo governado por uma rainha benevolente e justa. Até o dia em que o império Kardashian Kalovaxiano resolve invadir e destruir a vida de todos por puro prazer sádico de seu governante, o kaiser (nota: não confundir com a cerveja)

A princesa Theodosia tinha apenas 6 anos quando presencia a morte brutal de sua mãe, rainha de Astrea, e a dez anos ela é mantida como refém do homem que tomou o lugar da rainha, o cruel rei/kaiser de Kalovaxia, para servir de exemplo aos astreanos. Porém, após todo esse tempo, uma centelha da revolução se acenderá dentro de Theo.


“Não são as coisas que fazemos para sobreviver que nos definem [...] Talvez eles a tenham ferido, mas, por causa disso, você agora é uma arma mais afiada. E está na hora de atacar.” (Página 234)

Por se tratar do primeiro volume de uma trilogia, não temos um grande desenrolar da história, o que era de se esperar. Aqui, somos apresentados ao cenário da obra e a seus personagens, e de certa forma conhecemos mais sobre o reino de Astrea antes do cerco que culminou na escravidão de seu povo. Assim como temos uma pincelada da misteriosa magia elementar que paira sobre este reino.

Mesmo apresentando elementos clichês e um tanto quanto infantilizados, o tom geral da obra é mais adulto e possui temas bem pesados. Tais como: tortura, estupro, morte e traição. Elementos que a autora soube dosar, já que não teremos a descrição de nenhuma cena de estupro (graças a deusa), apenas a menção muito sutil do que aconteceu no passado com uma das personagens - não que isso torne a realidade menos terrível.

“A esperança dentro de mim ainda não foi sufocada. Ela está morrendo, sim, restando-lhe apenas algumas brasas. Mas já vi fogos serem reavivados com menos.”

Gostei da forma com que a autora conduz a história, fazendo-nos duvidar a todo momento das motivações de Theo. Afinal de contas, ela passou a maior parte de sua vida vivendo como kalovaxiana. Também gostei muito do desenvolvimento da personagem. Antes da centelha ser acesa, ela era submissa e vivia com medo da próxima punição. Porém, ela termina este livro juntando seus pedaços e se reerguendo das cinzas - tipo uma fênix, “ ô cosa már linda”.

(rara foto de gatinho destruidor de cenários)

Outro ponto muito interessante foi a forma com que a magia se manifesta, aparentemente dependendo do bom grado dos quatro deuses principais. O diferencial aqui é que quem não se provar digno aos deuses, perderá a sanidade. Além de perder o privilégio de entrar em Valhalla, quer dizer “Além”, onde se reunirão com seus entes queridos caídos. A autora soube dosar a linha tênue entre o poder absoluto e a insanidade e ela deixa claro - espero eu - que ainda tem muita coisa por vir.

“Estou com raiva; estou com fome; e prometo a mim mesma que um dia assistirei a todos eles queimarem.” (Página 275)

Apesar de eu não ter me incomodado com os clichês, uma coisa que realmente me tirou do sério foi a necessidade da autora de explicar a mesma coisa diversas vezes. Ela apresenta um conceito e três páginas depois explica exatamente a mesma coisa... Entendo a necessidade de relembrar alguns pontos, mas em um livro que não chega a 400 páginas, isso se torna irrelevante e cansativo.


“Princesa das Cinzas” termina deixando pontas soltas e uma protagonista relativamente em pedaços, que nos amarram ao segundo volume da trilogia.

Autora: Laura Sebastian
Editora: Arqueiro
Número de páginas: 352
Classificação: ★★★★/✰✰✰✰✰ 

*Livro cedido em parceria pela editora*

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