sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

[Resenha?] "O Culto", de Justin Benson e Aaron Moorhead


“O Culto”, dirigido e protagonizado por Justin Benson e Aaron Moorhead (que, para complicar a vida de quem quer escrever sobre o filme deles, batizaram os protagonistas com os próprios nomes), é um filme extremamente eficiente em estabelecer um plot misterioso que fisga o expectador. Infelizmente, alguns exageros narrativos e falta de direção no terceiro ato fazem dele um filme decepcionante, ainda que digno de ser visto.

Garanto que não é um mês temático, mas “O Culto” também aborda a questão das seitas religiosas norte-americanas. Talvez seja um mês temático, vai saber. Enfim, Justin e Aaron (os personagens), vivem uma vida empobrecida após terem escapado, ainda muito jovens, da custódia de uma seita adepta a práticas misteriosas (como é de praxe nesse tipo de coisa). No entanto, ao contrário de seu irmão Justin, Aaron parece não compreender exatamente as circunstâncias que levaram à fuga e quer, para fins de oclusão, passar alguns dias lá para ver qual’é. O aparecimento de uma fita de vídeo misteriosa – que parece retratar os últimos momentos da seita antes de um suicídio coletivo – aparece, fica quase impossível impedir Aaron de retornar e Justin aceita o plano para tentar proteger o irmão.


O filme funciona esplendorosamente até, mais ou menos, a metade do segundo ato. É muito interessante a maneira discreta e paciente como vamos descobrindo, de pouquinho em pouquinho, o que se passa ali e porque os protagonistas escaparam. Existem insinuações de violência sexual, práticas de pedofilia e, conforme supracitado, suicídio. No entanto, somos surpreendidos quando, muito sabiamente, o roteiro começa a inserir elementos que nos fazem questionar se a percepção de Justin – que, dos dois irmãos, parece ser o que orquestrou a fuga – não teria sido errada, se a fuga não teria sido estimulada por um sentimento de estar perdendo o controle sobre a vida de seu irmão ou sobre a própria. Quando o próprio Justin começa a se questionar sobre isso, e quando o roteiro insere elementos que nos fazem questionar se o os elementos sobrenaturais pregados pela seita são de fato reais, temos um thriller e tanto.

Mas, como diria Dr. Dre:“anybody can get it/ The hard part is keeping it, motherfucker“.

“O Culto“ é um filme desses de mistério que, eventualmente, revela seus segredos. Uma coisa muito recorrente em videogames de terror é a ideia de que, a partir do momento em que o jogador compreende a ordem interna dos inimigos que estão ali para assustar-lhe, é comum que o jogo perca totalmente a capacidade de causar medo. Aqui, é parecido: quando descobrimos o que está cercando as personagens, a trama perde muito do que a tornava instigante, especialmente porque a maneira como essa revelação acontece é muito exagerada - beirando a galhofa mesmo. Além disso, os diretores parecem acreditar que estão lidando com conceitos muito complicados para sua audiência, pois forçam a mesma explicação umas quatro ou cinco vezes até o final do filme. Não vou falar especificamente sobre o que é o mistério do filme porque realmente acredito que vale a pena assistir, menciono apenas que tem a ver com o terror cósmico lovecraftiano que está tão na moda agora.


Para piorar, a linha guia da trama, o relacionamento entre os dois irmãos, vai se perdendo aos poucos (até que um deles tenta fugir sem o outro!), e é retomada quase que do nada nos minutos finais do filme quase como uma muleta, como se o roteiro precisasse de uma maneira simples de se encerrar. Dessa maneira acabamos por não ter um encerramento satisfatório nem para o relacionamento dos irmãos, nem para as personagens da seita.

De maneira geral, as atuações são boas com exceção das personagens mais caricatas. Existe justificativa narrativa para o comportamento errático e espalhafatoso delas, mas a verdade é que os atores não conseguem entregar performances convincentes nesse sentido, sendo algumas delas até meio vergonha-alheia. O design de cena e a fotografia, por outro lado, são belíssimas (ao menos para um leigo). Existem algumas soluções visuais muito interessantes para a narrativa e, a beleza das coisas retratadas é, definitivamente, um ponto alto.


Com um visual e uma trama muito instigantes, porém, um roteiro perdido e decepcionante, “O Culto” tinha muito potencial mas acabou não sendo o filme que poderia ser. Mesmo assim, vale a pena ver: se você gosta da temática e não se importa em assistir filmes que não são obras primas, de uma chance para Justin Benson e Aaron Moorhead. E que venham mais filmes desses dois!

Diretores: Justin Benson e Aaron Moorhead
Ano: 2017
Classificação: ★★★/✰✰✰✰✰ 

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