segunda-feira, 17 de junho de 2019

[Resenha] Dinastia de Ladrões #1: Dance of Thieves

“Escolha suas palavras com cuidado, até mesmo aquelas em que for pensar, porque as palavras se tornam sementes, e as sementes se tornam história.” (Página 252).


“Dance of Thieves” da autora Mary E. Pearson: não sei o que dizer, apenas sentir.

Se você ainda não leu “Crônicas de Amor e Ódio”, vai levar alguns spoilers pesados da trilogia predecessora, principalmente do último volume “Beauty of Darkness”. Você pode ler esse novo livro sem ter lido os anteriores? Pode, mas a experiências com certeza não vai ser igual.


Em “Dance of Thieves” a rainha de Venda envia sua guarda, as Rahtan, em uma missão para um reino distante, em busca de um traidor do trono. A premissa pode até parecer simplista, porém Pearson já deixou claro em “The Kiss of Deception” que até mesmo a problemática mais simples é capaz de escalar às alturas.

Kazi é uma protagonista forte, que é assombrada pelo seu passado e que é muito fiel a sua rainha, não medindo esforços para completar suas missões. Apesar de parecer dura, ela tem um coração puro e é incapaz de virar as costas para alguém em necessidade. 

“[...] Às vezes, é impossível sequer começar a entender tudo o que perdemos até que alguém nos mostre aquilo que poderíamos ter tido.” (Página 341)


O amadurecimento na escrita da autora já era notável na trilogia original, porém em “Dance of Thieves” o progresso é estratosférico. Neste livro, um dos pontos melhor desenvolvidos foi a sua habilidade de fazer com que você se importe com cada personagem e que pareça que eles são seus amigos de infância mais íntimos e especiais. Sua escrita cinematográfica transporta o leitor e nos faz sentir o vento e a areia do deserto batendo em nosso rosto, enquanto sentimentos o calor do sol sob a nossa pele. 

Eu não preciso nem comentar como essa história é empoderadora, preciso? O mundo definitivamente precisa de mais pessoas como Mary E. Pearson e suas personagens femininas. Temos mulheres das mais variadas personalidades. Porém, todas coincidem em sua força, coragem, determinação e lealdade e se complementam. Ao decorrer de toda a narrativa, temos a presença marcante da sororidade e da resiliência. 

Há enorme desenvolvimento de personagens, tanto antigos quanto novos, e isso dá um tom de jornada a obra. Alguns acontecimentos são um tanto quanto óbvios, como o fatídico encontro dos protagonistas, mas isso não faz com que a narrativa se torne cansativa ou clichê, pelo contrário, faz com que você anseie por este e outros encontros (se é que você me entende, caro leitor que conhece bem o universo de “Crônicas de Amor e Ódio”).


Mary não decepciona em momento algum. Todos os momentos de incerteza são tensos, fazendo com que você tema pela vida de cada personagem, assim como você também torce para que seus planos funcionem sem adversidades. O tempo da narração é cíclico, onde cada evento acontece no momento correto. Não achei nenhum momento tedioso ou que me transmitisse a sensação clássica do velho “encher linguiça”.

“Faça um desejo para amanhã, para o dia seguinte e para o próximo. Um deles sempre haverá de se tornar realidade.”

Outro ponto, que vou passar a incluir em todas as minhas resenhas, é se este livro passa ou não no teste de Bechdel. Para aqueles que não conhecem o termo, ele foi criado em homenagem a uma cartunista chamada Alison Bechdel em 1985, quando, em um duas tirinhas, ela critica os filmes Hollywoodianos, que em sua maioria, apresentam apenas personagens clichês e estereotipadas. Este teste serve para determinar se a obra a ser avaliada apresenta personagens femininas fortes e participativas (resta alguma dúvida?).


As regras são: Existem pelo menos duas mulheres com nomes? Elas conversam entre si? Elas conversam sobre alguma coisa sem ser homens e romances?

“Dance of Thieves” passa com pontos de sobra neste teste. Apesar de apresentar romance, ele não é o foco da narrativa e não cega a protagonista em suas decisões. Sendo uma pessoa que não gosta de ler livros com o tema romance, posso dizer que “Dance of Thieves” foi feito na medida certa. O romance é pé no chão, não é meloso, e o mais importante: a protagonista não vira uma ameba após conhecer o seu boy magia e se isola. 

Se você está procurando uma fantasia que empodera mulheres, traz personagens amados de volta, que apresenta aquela pitadinha pós apocalíptica, tem um toque de romance (na medida certa) e acontece em meio a uma jornada decisiva, este livro é sucesso garantido. 

“Existe magia em tudo, mas você precisa estar atenta para vê-la. Ela não vem de encantamentos, nem de poções, nem do céu, nem mesmo por meio de uma entrega especial dos deuses. Ela está em todos os lugares, ao seu redor."


O final deste livro é o gancho perfeito para o volume final da duologia - que por sinal, tem lançamento previsto para o segundo semestre de 2019. Em um primeiro momento, eu até cheguei a pensar que “Dance of Thieves” poderia ser um volume único, já que antes da grande revelação do final, a história era bem concluída. Porém, ainda temos muitas perguntas a serem respondidas - perguntas que foram feitas nas últimas páginas, SEGURA ESSA SOCIEDADE

Se eu pudesse ter um desejo a ser realizado magicamente, ele seria um estoque interminável de livros escritos por essa mulher fenomenal que é Mary E. Pearson.

Autora: Mary E. Pearson
Editora: Darkside Books
Número de páginas: 512
Classificação: ★★★★★♥/✰✰✰✰✰ 

*Livro cedido gentilmente pela editora*

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