[Resenha] Quatro Estações

“Quatro Estações” é um compilado de 4 novelas que fogem do tradicional terror de King. Então, se você tem curiosidade de ler algo do autor, porém tem medo de obras mais intensas como “Misery”, ”O Cemitério”, “Salem” e “O Iluminado”. “Quatro Estações” pode ser um bom começo para você. Também já recomendei “Joyland”, um livro bem rápido do King em que o foco não é o terror.

Porém, deixo um aviso: não é porque o tema central não é o terror, que não haverão momentos horríveis. Essas novelas contém cenas de estupro, crueldade com animais, morte, tortura e recontam alguns dos horrores do holocausto. Então leia sabendo que existem cenas fortes e que não são fáceis de engolir - confesso que eu pulei uma parte de “Aluno Inteligente” porque a descrição detalhada do assassinato extremamente cruel de um gato foi demais para mim - porra King, não fode.

Este é um livro bem famoso do King, já que três de suas obras foram adaptadas para o cinema. Então, apesar de você nunca ter lido, provavelmente já ouviu falar ou assistiu: “Um Sonho de Liberdade” de 1994, “O Aprendiz” de 1998 e “Conta Comigo” de 1986 - teremos uma adaptação prevista para 2020 de “The Breathing Method”.

Não se preocupem com spoilers, vou dar apenas a minha opinião de cada novela.

1. Primavera da Esperança - Rita Hayworth e a Redenção de Shawshank

Este livro não poderia começar de uma maneira melhor. Aqui temos uma história sobre a esperança e redenção.

Um tema recorrente nestas quatro novelas - salve alguns momentos na segunda e terceira novelas - é a rapidez que elas são contadas. Não senti em momento algum as páginas passando, pelo contrário, gostaria de ter mais páginas para ler. 

Nesta novela o que mais me deixou intrigada foi a forma com que a história é contada, por meio da visão de um dos prisioneiros - como um diário - a narrativa é extremamente bem trabalhada e todos os personagens apresentam e desenvolvem suas inúmeras camadas. É impossível não simpatizar com os protagonistas e sentir raiva pela injustiça, abuso e corrupção.

A história é bem construída e o final é completamente satisfatório, deixando o gostinho de “quero mais”, tão característico nos livros do King.

Nota: ★★★★★/5

2. Verão da Corrupção - Aluno Inteligente

Esta é uma história sobre um garoto de 13 anos que era aparentemente perfeito e descobre que um vizinho não é bem quem ele aparentava ser. Muito menos o próprio garoto...

Essa novela foi bem difícil se ser lida, apesar de eu ter sido movida pela curiosidade em descobrir em que as coisas iam dar, tive repulsa de ler os atos descritos aqui. Até metade da história, os eventos são descritos com rapidez. Porém, chega um momento em que parece que o King se perde em meio a sua narrativa e nada faz muito sentido.

A narrativa apresentada é a mais pesada de todo o livro, carregada de violência e ódio. Em certos momentos até chegamos a torcer pelos protagonistas, em uma relação doentia e corrompida, até que certos eventos reforçam aquilo que já sabíamos: que os dois são podres e não há redenção.

Chegando na metade da história, parece que o freio de mão é puxado e tudo fica travado, perdido e sem sentido, como se os próprios personagens tivessem enlouquecido. 

O final da história me deixou mais confusa do que satisfeita, apenas com a sensação de alívio de ter finalmente deixado para trás a mente de pessoas tão repulsivas quanto os personagens principais. Como se eu emergisse de águas sombrias e lodosas, para respirar profundamente enquanto o calor do sol aquece a minha pele e todo o horror e pesadelos da noite são deixados, finalmente, para trás.

Nota: ★★/5 

3. Outono da Inocência - O Corpo

Essa novela me passou muito a sensação nostálgica de “It”, mas de uma forma um pouco mais distorcida - estranho dizer isso pensando o quão bizarro “It” pode ser em certos momentos. Temos um grupo de garotos, que partem em uma viagem em busca de algo que eles não compreendem a magnitude: o corpo de um garoto perdido.

Toda a narrativa é tecida em meio a um sentimento nostálgico, de que tudo o que os personagens estão vivendo é algo passageiro. Que nossas amizades da infância, que pareciam eternas, acabarão tão logo as férias terminem. 

Temos algumas pinceladas de sobrenatural, mas a novela é bem comum. Tanto que a nota que eu dei acabou sendo mediana também. Apesar de ter achado cativante em alguns momentos, em outros me cansava da eterna viagem até o corpo esquecido.

Nota: ★★★/5 

4. Inverno no Clube - O Método Respiratório

E para fechar com chave de ouro, temos a minha novela favorita deste livro - que batalhou pelo primeiro lugar com “Rita Hayworth e a Redenção de Shawshank” e ganhou por apresentar temas macabros e desconhecidos.

Um clube secreto de idosos que se reúne para beber e contar histórias especiais, reservando o tema macabro para a noite de natal - alguém segura o King. Temos críticas sociais pesadas, terror, sobrenatural, a novela perfeita para se terminar um livro 

Definitivamente aqui temos o maior mistério do livro: o que é real, e o que é fruto da imaginação paranoica dos personagens? Enquanto lia essa novela, me imaginei tanto sentada junto ao clube secreto, ouvindo a horripilante história, quanto como uma telespectadora na terrível e melancólica história em si.

Nota: ★★★★♥/5

***

É impossível terminar esse livro sem que um arrepio gele sua espinha, ou sem a sensação de que olhos te observam da escuridão. King tem a habilidade de transportar o leitor para um mundo em que a paranoia se mistura a realidade e ao sobrenatural, um mundo em que a mente humana conjura o que é de mais nefasto e nos deixa suando frio, com a respiração acelerada e o coração explodindo em nossa caixa torácica. Essa é a verdadeira magia, ou no caso maldição, de ler obras de terror tão bem escritas como as obras do King.

Mergulhe de cabeça no poço da escuridão e aproveite o frio na barriga.

***

Autor: Stephen King

Editora: Suma de Letras

Número de páginas: 556

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Classificação: ★★★★/✰✰✰✰✰