segunda-feira, 9 de março de 2020

{#SemanaGirlPower} [Resenha] Lady Killers: Assassinas em Série

“Se pelo menos houvesse pessoas más em algum lugar, insidiosamente praticando ações ruins, e nos bastasse simplesmente separá-las do resto do mundo e destruí-las. Mas a linha que divide o bem e o mal atravessa o coração de todo ser humano. E quem está disposto a destruir um pedaço do próprio coração? - Alexander Soljenítsin (Página 292)."


Começando a #SemanaGirlPower de uma forma matadora - nota: favor tocar a música tema de a praça é nossa - trago a vocês a tão esperada resenha de "Lady Killers" *fogos* Se você queria textão, é exatamente isso o que você vai ter!

“Lady Killers” começa levantando questionamentos polêmicos: Por que não existem mulheres serial killers? Honestamente, não é possível que elas não existam. Se for esse o caso,por que a mídia resolveu esconder a sua existência? Será que as motivações dessas mulheres são as mesmas do que a de homens? Com uma narrativa extremamente fluida e instigante, Tori Telfer responderá essas perguntas enquanto conta mais sobre a trajetória de 14 assassinas em série.


Acho que o principal ponto a abordar antes de começar essa resenha é: mulheres são julgadas a todo momento. Não importa aparência, educação, religião, alinhamento político, nada escapa. A única coisa que ninguém se importa em saber é a opinião dessa mulher. A todo momento a sociedade patriarcal espera que as mulheres se comportem de uma forma esperada, e a cada momento que uma mulher quebra esse ciclo, há caos. Deste caos, nasce uma feminista (ui, ando bem poética ultimamente - comi sopa de letrinhas mesmo).

Telfer começa sua narrativa discutindo um pouco sobre como a sociedade rotula uma assassina e automaticamente a coloca em uma de duas caixas, sendo a primeira opção a caixa de “gostosa”. Consequentemente essa mulher é tida como uma vítima deturpada que não sabia o que estava fazendo, tem sua pena amenizada ou até mesmo é liberada impune. “Graças a deus salvamos uma boa moça! Ela não teve intenção de matar todos os seus alunos do berçário...” - não vou nem entrar no mérito dos fetiches bizarros.


“[...] Se a polícia não conseguia obter uma confissão, entravam em cena técnicas bizarras de amedrontamento: um oficial se escondeu embaixo de uma cama em um quarto onde duas mulheres eram mantidas e as assustou agarrando os pés de ambas. As mulheres, supersticiosas e apavoradas, imediatamente confessaram.” (Página 258)

Agora, se a assassina for colocada na caixa de “feia”, ah… preparem seus ancinhos e vamos queimar essa vadia enquanto arrancamos cada pedaço de sua pele! Ela deixa de ser considerada uma mulher e tem seus atos com comparados aos mais terríveis crimes cometidos por homens da pior estirpe. Chegando ao ponto de ser desumanizada. Não vou nem comentar sobre o que acontece com ela porque acho que é meio óbvio, certo?

Por outro lado, existem pessoas que lidam com assassinas em série como se fosse piada, como se mulheres jamais pudessem subjugar ou enganar um homem em situação alguma. Resumindo, mulheres são julgadas, diminuídas ou sexualidas. Até mesmo as assassinas em série.


“Essas damas assassinas eram inteligentes, mal-humoradas, coniventes, sedutoras, imprudentes, egoístas, delirantes e estavam dispostas a fazer o que fosse necessário para ingressar no que elas viam como uma vida melhor. Foram implacáveis e inflexíveis. Estavam perdidas e confusas. Eram psicopatas e matadoras de crianças. Mas elas não eram lobos. Não eram vampiros. Não eram homens. Mais uma vez, a ficha mostra: elas eram horrivelmente, essencialmente, inescapavelmente humanas.” (Página 19)

Em “Lady Killers” Tori Telfer cria um compilado histórico que começa antes mesmo do termo serial killer ter sido inventado. Somos apresentados a 14 mulheres que não podiam ser mais diferentes, contudo foram listadas por um motivo: serem psicopatas.

A narrativa de Telfer de maneira nenhuma deixa transparecer que “Lady Killers” é seu primeiro livro. Ela apresenta um dossiê visceral, repleto de curiosidades, conteúdo extra, que em momento algum deixa de cativar a curiosidade (tanto devido ao conteúdo, quanto à edição) enquanto discute questões atuais sobre feminismo, ética e moral. Infelizmente este livro só possui 14 histórias, o que de certa forma é um pouco horrível de se pensar, levando em conta seu objeto de estudo.


Uma das reflexões mais importantes deste livro é o por que de sempre associarmos serial killers com homens. Posso dizer que faço parte da população que sofreu lavagem cerebral e que só pensa em homens assassinos - difícil de acreditar nessa coincidência quando uma mulher é morta a cada quatro horas por ser mulher, o tal feminicídio - wow. Seja pela substituição dos serial killers pelos terroristas e assassinatos em massa ou pelo avanço da ciência, uma coisa fica clara: serial killers estão em extinção. Independentemente disso, a esmagadora maioria dos serial killers são homens, mas isso não quer dizer que a maldade não exista dentro de mulheres também - essas 14 assassinas em série estão ai para provar justamente isso.

“Vovozinha Estripadora, Vovozinha do Inferno e Vovó Lecter. Esses são nomes engraçados, com certeza, mas os crimes atribuídos a ela são tão horrendos quanto os de Jack, o Estripador. Ainda assim, de certo modo, quando ela comete esses crimes, eles não passam de algum tipo de piada?” (Página 58)


Estamos em um dilema: por um lado há pouca divulgação da existência de serial killers mulheres (por mil motivos, um deles é como sempre por diminuir o gênero) e por outro, a esmagadora maioria dos assassinos são homens e as vítimas, mulheres…

Fico um tanto quanto chocada por nunca ter tido a chance de ler sobre assassinas em série antes de “Lady Killers”, não falo isso com alguma ideia distorcida de justiça contra o machismo, longe disso. Mas acredito que se mais livros sobre assassinas em série fossem divulgados e publicados, mais pessoas entenderiam que mulheres e homens são iguais, até mesmo avaliando por um espectro tão horrendo quanto a psicopatia e o assassinato em série.


“[...] Não quero fazer parte da longa tradição que glamouriza os assassinos em série, embora com certeza eu tenha cometido um ou outro deslize. Mas acredito no poder curativo e esclarecedor da narração, e penso que há algo de proveitoso em olhar para o mal, em tentar compreendê-lo, imaginando se talvez somos todos um pouco responsáveis. Poderia qualquer coisa humana ser estranha a nós? Eis uma questão bela e aterradora.” (Página 296)

Autora: Tori Telfer
Editora: Darkside Books
Número de páginas: 384
Classificação: ★★★★★♥/✰✰✰✰✰ 

*Livro cedido gentilmente pela editora*

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Este post faz parte da #SemanaGirlPower. Uma semana dedicada inteiramente a apresentar trabalhos feitos por mulheres incríveis que mudaram nossas vidas. O intuito desta semana é dar visibilidade à presença da mulher em mídias variadas, em homenagem ao Dia da Mulher (8 de março) ♥ #LeiaMulheres

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