quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

[Resenha] Golem e o Gênio

Título: Golem e o Gênio

Título original: The Golem and the Jinni

Autor: Helene Wecker

Editora: Darksidebooks

ISBN: 9788566636482

Número de páginas: 528

Skoob: Adicione a sua estante

Sinopse: Os confrontos e as barreiras vividas por duas culturas tão próximas, ainda que aparentemente opostas. Em GOLEM E O GÊNIO, premiado romance fantástico que a DarkSide® Books traz ao Brasil em 2015, o leitor se transporta à Nova York da virada do século XX, em uma viagem fascinante através das culturas árabe e judaica. Seus guias serão poderosos seres mitológicos. Chava é uma golem, criatura feita de barro, trazida à vida por um estranho rabino envolvido com os estudos alquímicos da Cabala. Ahmad é um gênio, ser feito de fogo, nascido no deserto sírio, preso em uma antiga garrafa de cobre por um beduíno, séculos atrás.Atraídos pelo destino à parte mais pobre de uma Manhattan construída por imigrantes, Ahmad e Chava se tornam improváveis amigos e companheiros de alma, desafiando suas naturezas opostas. Até a noite em que um terrível incidente os separa. Mas uma poderosa ameaça vai reuni-los novamente, colocando em risco suas existências e obrigando-os a fazer uma escolha definitiva. O romance de estreia de Helene Wecker reúne mitologia popular, ficção histórica e fábula mágica, entrelaçando as culturas árabe e judaica com uma narrativa inventiva e inesquecível, escrita de maneira primorosa.

Defina o livro com uma frase: "Se o ato do amor é tão perigoso, por que as pessoas se arriscam tanto por ele?" (Página 174)

A editora Darksidebooks se superou mais uma vez nessa edição maravilhosa, a capa parece pertencer a um livro mágico, o que não deixa de ser verdade, com toque aveludado e detalhes em dourado por todos os lados, fora as fotos de Nova York da virada do século 20 que dão um toque mais especial ainda a um dos livros mais bonitos da minha estante. “Golem e o Gênio” é um romance de ficção histórica e fantasia narrado em terceira pessoa. 

A sinopse pode enganar um pouco, assim que a li pela primeira vez pensava que o livro se tratava de um romance entre duas criaturas místicas, e a sua vida entre os humanos, porém somos levados a um universo muito mais amplo e profundo, o que em minha opinião, tornou a experiência muito mais rica. 
Ao decorrer de cada capítulo, acompanhamos a história de diversos personagens, tanto principais como secundários, e confesso que em um primeiro momento fica um pouco confuso acompanhar tantas histórias em períodos tão distintos, porém, com o passar dos capítulos, os pequenos trechos começam a fazer cada vez mais sentido e no final tudo se junta de uma forma muito harmoniosa, não há um único personagem que não foi apresentado sem um propósito na narrativa. 

Um dos protagonistas chama-se Chava. Ela é uma Golem, criatura da cultura judaica criada com um único intuito, servir a seu mestre. Ela foi feita a partir barro por um misterioso ex-rabino chamado Yehudah Schaalman a pedido de um homem chamado Rotfeld. 


“Será ela capaz, um dia, de amar verdadeiramente, de ser feliz? Começo a acreditar que sim, contra minha própria vontade.” (Página 397) 


Rotfeld é um homem sórdido com mais de 30 anos e solteiro. Devido a sua famosa arrogância e temperamento difícil ele sabia que não seria uma tarefa fácil arranjar alguém que quisesse ser sua esposa. Sendo assim ele procura Schaalman com um desejo, que ele criasse a esposa perfeita. Sabendo dos riscos que ele correria por ter uma criatura tão perigosa e instável como esposa, ele anota em um papel todas as características que ele deseja em uma mulher e após realizar o salgado pagamento a Schaalman, este lhe entrega sua obra prima, a Golem. 

Rotfeld embarca com sua esposa de barro em um navio para Nova York e devido a algumas circunstâncias a Golem é desperta durante a viagem e acaba chegando sozinha em Nova York. 

O outro protagonista, como o próprio título do livro diz, é um Gênio chamado Ahmad. Ele faz parte da cultura árabe e é feito completamente de fogo. Nascido em um deserto sírio, é um espírito livre e inconsequente que não admite que ninguém lhe diga o que fazer. Por razões que fogem ao seu conhecimento, ele fora aprisionado em uma garrafa de cobre e acabou sendo libertado acidentalmente, mais de 1000 anos depois, por um ferreiro chamado Arbeely, em Nova York no século 20. 


“Para ele o novo nome dava a ideia de que as mudanças pelas quais passara eram tão drásticas, tão penetrantes, que ele não era mais o mesmo ser [...] mas com frequência, enquanto escutava as conversas fiadas das novas visitas, dentro de sua cabeça ele pronunciava seu nome verdadeiro para si próprio, confortando-se com o som que produzia.” (Página 87) 


A partir daí a narrativa continua com ambos tentando viver, da maneira mais discreta o possível, suas vidas entre os humanos. Até que um dia seus caminhos se cruzam e começa uma amizade peculiar, uma vez que ambos são totalmente opostos. 


“Seu pânico diminuiu, sendo substituído pela raiva. Como ele ousou segui-la até em casa? Que direito ele tinha? No entanto... quantas vezes ela vpensara em ir até a Washington Street para procurá-lo? E agora aqui estava ele, embaixo de sua janela, e ela não tinha a menor ideia do que fazer.” (Página 219)


A natureza de Chava a faz obedecer e servir seu mestre, como ela não tem nenhum, ela se vê tentada a realizar os desejos de qualquer pessoa que cruze seu caminho. Para evitar que isso ocorra e que ela seja descoberta, ela acaba tentando fazer o maior número de tarefas possíveis para ocupar todo o seu tempo livre e dessa maneira, ter um propósito. Enquanto Ahmad anseia por liberdade e luta contra o desejo de fugir das regras e expectativas de conduta dos humanos, já que ele as julga serem ridículas e desnecessárias, afinal de contas se você sente vontade de fazer alguma coisa, por que não satisfazer esse desejo? 


“Aquela era uma mulher difícil de entender. Ela tinha um traço de temperamento pudico que parecia formar um elmo com sua cautela e seriedade. Era tão curiosa quanto ele, mas hesitava em explorar o mundo. Às vezes sorria, mas raramente dava risadas. Em tudo, o caráter dela era exatamente o oposto do que ele normalmente procurava em uma mulher. Ela daria uma péssima djim.” (Página 260) 


Helene Wecker consegue criar um universo em que é impossível não mergulhar de cabeça, assim que comecei a ler esse livro não parei até a última página e me vi sentindo falta dos personagens, uma vez que parecia que eles faziam parte do meu dia. 


”Deixa ver se entendi corretamente”, disse o Djim a certa altura. “Você e seus parentes acreditam que um fantasma que vive no céu pode atender seus pedidos.” (Página 212) 


A trama criada se fecha de maneira impecável nos últimos capítulos, como se cada trecho da história fosse uma peça do quebra cabeça e no final víssemos a imagem formada. Todas as perguntas que eu tinha ao decorrer da história foram respondidas de maneira primorosa. 


“Provavelmente, pensou ela enquanto fechava sua capa, poderia existir um meio-termo, um ponto entre a paixão e o cotidiano. Ela não tinha a menor ideia de como o encontraria [...] qualquer caminho que escolhessem apresentaria dificuldades. Mas talvez ela pudesse se permitir a ter esperanças.” (Página 514)


Acho que o único ponto negativo da história é que as coisas demoram um pouco para acontecer, porém por se tratar de um livro grande a autora tem maior liberdade de desenvolver cada personagem com zelo, o problema é que em algumas partes a narrativa fica um pouco lenta, mas nada que torne a leitura arrastada. 


“O Djim observava e aprendia, chegando à conclusão de que eles eram um fascinante paradoxo. O que levava essas critaturas de vida curta serem tão estranhamente autodestrutivas, com suas jornadas massacrantes e batalhas brutais?” (Página 39) 


“Golem e o Gênio” é um livro recheado de reflexões dos personagens, que lutam para se encaixar em uma sociedade desconhecida para ambos. Recomendo esse livro para todos que são, assim como eu, apaixonados por uma fantasia recheada de cultura, judáica e árabe, e que amam histórias que retratam com tanta qualidade uma época antiga, como a Nova York do século 20.



4 comentários:

  1. Desde que esse livro saiu eu estou doida por ele! Na verdade, acho que sou doida por todos os livros da Darkside, eles só publicam coisa boa hahahah
    Gostei da sua resenha. :)

    Mago e Vidro

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    Respostas
    1. Oii Tisa, tudo bem?
      Sou suspeita para falar dos livros da darkside, um mais lindo que o outro! E as histórias são sempre muito boas!!
      Beijos~

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  2. Que resenha amorzinho!!! Agora me deu mais vontade de ler. <3 Amei.

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