sexta-feira, 24 de março de 2017

[Resenha] O Último Adeus

Título: O Último Adeus

Título original: The Last Time We Say Goodbye

Autor: Cynthia Hand

Editora: Darkside Books

Número de páginas: 352


Sinopse: O Último Adeus é narrado em primeira pessoa por Lex, uma garota de 18 anos que começa a escrever um diário a pedido do seu terapeuta, como forma de conseguir expressar seus sentimentos retraídos. Há apenas sete semanas, Tyler, seu irmão mais novo, cometeu suicídio, e ela não consegue mais se lembrar de como é se sentir feliz. O divórcio dos seus pais, as provas para entrar na universidade, os gastos com seu carro velho. Ter que lidar com a rotina mergulhada numa apatia profunda é um desafio diário que ela não tem como evitar. E no meio desse vazio, Lex e sua mãe começam a sentir a presença do irmão. Fantasma, loucura ou apenas a saudade falando alto? Eis uma das grandes questões desse livro apaixonante. O Último Adeus é sobre o que vem depois da morte, quando todo mundo parece estar seguindo adiante com sua própria vida, menos você. Lex busca uma forma de lidar com seus sentimentos e tem apenas nós, leitores, como amigos e confidentes.


Defina o livro com uma frase: “As pessoas que amamos nunca se vão realmente.”


Demorei muito mais do que eu gostaria para ler “O Último Adeus”, não por não me interessar pelo tema, apenas por medo de levar um soco sentimental, assim como tantas pessoas alegavam. Começo a minha resenha dizendo: você pode ler esse livro em qualquer momento da sua vida, não é porque você está triste agora que vai piorar, ou se está feliz que a sua alegria irá embora. Este livro invoca diversas emoções que variam de alegria a tristeza. Porém, cada momento é único e cada emoção é especial.

“O Último Adeus” conta a história de quem fica para trás após um suicídio e deve catar os cacos, recompor sua vida e seguir em frente. Alexis é uma garota de 18 anos que perde o sentido da vida após o suicídio de seu irmão mais novo, Tyler.

“Claro, não faz sentido ficar brava. É improdutivo. Eles ainda não entendem. Que estão esperando por aquele telefonema que mudará tudo. Que cada um vai acabar se sentindo como eu. Porque alguém que eles amam vai morrer. É uma das certezas mais cruéis da vida.” (Página 21)


Apesar do turbilhão de emoções envolvidas, ela se fecha e passa a não conseguir expressar mais dor. Enquanto ela é obrigada a viver como se nada tivesse acontecido, afinal de contas todos a seu redor parecem acreditar que ela é uma bomba prestes á explodir. Lex tem um buraco negro no peito que engole tudo, ela se afasta de seus amigos, termina com o namorado e vive feito um zumbi.

“As pessoas seguem sua vida. Ainda que não consigamos seguir com a nossa.” (Página 100)

Devido a sua apatia, ela é obrigada a comparecer a sessões de terapia semanais, e um belo dia seu terapeuta David, sugere que ela escreva um diário – com um destinatário, mesmo que ela não o entregue a ninguém – com suas lembranças de seu irmão:  sua primeira lembrança, seu momento mais feliz,  a última vez que ela o viu... Pode parecer cruel querer relembrar disso, mas David acredita que com isso Lex conseguirá voltar a expressar seus sentimentos normalmente, ajudando-a a passar pelo processo de perda.

“Caro alienígena do futuro; Por favor, não considere este diário como representativo da vida comum de uma adolescente humana. Vai atrasar sua pesquisa em anos. Na verdade, o melhor, provavelmente é você simplesmente ignorar tudo o que está escrito aqui. Além disso, se ainda não o fez, por favor, não aniquile a raça humana. Sabemos ser legais; Atenciosamente; Alexis P. Riggs.” (Página 149)

Como se não bastasse, seus pais haviam se separado há alguns anos e ela não pode contar com o apoio do pai enquanto assiste sua mãe se afogar no álcool e remédios para dormir. Se estar acordada é um inferno, dormir deveria ser uma benção, já que ela poderia esquecer o que aconteceu com Ty. Só que dormir é ainda pior. Lex passa a sonhar todas as noites com o seu irmão, e todos esses “sonhos” terminam com ele morrendo de alguma forma brutal e horrível.

Por que ela tem esses pesadelos? Por que parece que ela consegue sentir o cheiro do perfume favorito de Ty pela casa? Por que ele fez o que fez, deixando apenas um bilhete para a mãe: “Desculpe mãe, mas eu estava muito vazio?


“O Último Adeus” é um livro que apresenta uma narrativa sensível, ao mesmo tempo direta, sobre as dores de perder alguém que amamos, e a negação que acompanha essa dor, já que Lex não quer dar a ela mesma o tempo necessário para superá-la.

“O tempo passa. É a regra. Independentemente do que aconteça, por mais que pareça que tudo em sua vida está congelado em um determinado momento, o tempo segue em frente. Depois que meu irmão morreu, o tempo passou devagar, e eu me arrastei para fazer todas as atividades obrigatórias [...] Isso ou o tempo desaparecia.” (Página 164)

Lex culpa o divórcio dos pais, o namoro, a pressão para entrar na melhor faculdade de matemática do país, e acima de tudo ela mesma. Ela tem a necessidade de encontrar um culpado, afinal como ela não pode ter percebido que o irmão estava se sentindo tão vazio?

Acompanhamos diversos momentos da vida de Lex, tanto o que acontece depois de Ty se suicidar, assim como momentos no passado dos dois, em parte pelo diário que ela escreve e pelas suas lembranças. A narrativa não é linear, porém ao decorrer do livro vamos encaixando as peças do quebra cabeça da vida de Lex e Ty, o que aconteceu e o que realmente motivou aquele fatídico dia.


O livro lida com sensações conflitantes: havia momentos em que eu era afogada por uma tristeza angustiante, e em outros estava rindo de algo no passado dos dois e sentia aquele calorzinho esquentando o peito. Essa alegria vibrante, em retrospecto, só reforça a tristeza da Lex. Acredito que este livrou tocou muitas pessoas justamente por isso: Ty era uma pessoa maravilhosa, com um futuro cheio de possibilidades e com amigos e família que o amavam. Como ele foi fazer uma coisa dessas?

 “Existe morte ao nosso redor. Em todos os lugares para onde olhamos. 1,8 pessoa se mata a cada segundo. Só não prestamos atenção. Até começarmos a notar.” (Página 251)

Uma das mensagens mais importantes que ficam é que às vezes as pessoas que sorriem mais são as que se sentem mais sozinhas. Como alguém poderia ter suspeitado que Ty estivesse daquele jeito?

O problema é que muitas pessoas, se não a maioria, não leva a depressão a sério, pensam que é só “frescura” e “ah, é só uma fase... vai passar”. Não é assim. A depressão é uma síndrome que acomete milhões de pessoas (cerca de 20% da população mundial), sem distinção de raça, idade, classe social ou sexo. É uma doença séria e não é porque alguém tem vários amigos, se diverte, dá risada, etc.. que esta pessoa não se sinta deprimida. Depressão não é uma maneira de chamar atenção e não é para ser levada como brincadeira. É uma doença silenciosa de altos e baixos, que pode ser “controlada” com acompanhamento psiquiátrico e remédios. Claro, viver assim não é o que ninguém quer para si, porém é necessário para que você fique bem consigo mesmo, para que essa nuvem negra saia de cima da sua cabeça. Ninguém está sozinho, ninguém é descartável. Você pode se sentir sozinho em alguns momentos, mas sempre tem alguém que se importa com você.


Em parte, lendo este livro há a negação: “no final a Lex vai conseguir salvar Ty”. Nós já sabemos o final. Uma das grandes questões desse livro é a aceitação: Lex deve aceitar que o irmão morreu, que a vida às vezes não é justa, que existem pessoas que querem a ver bem, que a sua vida não acabou com a morte do irmão, que ela precisa dar um tempo a ela mesma para superar, que o buraco deixado pelo irmão nunca vai se fechar, só que ela deve se lembrar de todos os momentos felizes que eles compartilharam ao invés de se corroer em culpa. E, acima de tudo, que ela precisa aprender a dizer adeus.

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