“Chega um dia em nossa vida, o cruzamento daquilo que fomos com aquilo que somos e aquilo que seremos. Nesse momento, ao término de tudo, é que decidimos qual será nosso fim. Com orgulho ou vergonha da trajetória percorrida.” (Página 9)
O que acontece quando uma lenda cai em
desgraça?
Dun-Cadal Daermon foi um dos maiores
generais do Império. Porém, hoje ele é apenas uma sombra de quem já foi e passa
seus dias se arrastando bêbado em tavernas, contando histórias sobre uma espada
perdida.
“Os insurgentes já não tinham nada a
perder. Não podiam baixar as armas, havia muito em jogo. Queriam transformar
uma simples revolta numa autêntica revolução. De pé, resistiam. De joelhos,
aguentavam firme. No chão, ainda lutavam. Nada os faria desistir, nada a não
ser a morte.” (Página 105)
Antes do lançamento de “O Livro e a
Espada” eu nunca havia ouvido falar em Rouaud. Fiquei extremamente feliz em
conhecer a escrita do autor, ainda mais por ele ser francês e sairmos do eixo
americano de literatura fantástica - ouvi um aleluia?
“No entanto, algo o obrigava a avançar.
Ardia dentro dele um fogo estranho, cuja força ele não saberia descrever, nem
mesmo nomear. Talvez fosse a esperança ainda correndo em suas veias, fazendo
seu coração bater tão depressa.” (Página 201)
Este é um livro extremamente bem
escrito. Todas as cenas nos fazem mergulhar na história, como se estivéssemos
acompanhando os personagens em sua jornada. O que dizer das cenas de batalha
então? Se fosse avaliar este livro apenas por esse quesito, diria que foi um
dos livros com as melhores batalhas que eu já li. Dignas de uma série como “Game
of Thrones” - segura essa notícia George Martin.
“Eles lutavam por uma nova visão de
mundo. As mãos se agarram nas lanças, nos punhos das espadas, nos cabos das
maças, como se fossem seu último recurso antes da queda. E, por conta própria,
sem que ninguém ordenasse, lançaram-se de encontro aos atacantes em meio à
confusão. O ferro golpeou a carne, pontas afiadas rasgando a pele. A cavalaria
rompeu as linhas, os corpos voaram… e fez-se o caos no limite da floresta.”
(Página 105)
Em um primeiro momento, o ritmo do
livro pode ser um pouco lento. Porém, o que quebra essa “lentidão” e dá um
dinamismo absurdo é a forma com que o enredo é contado, intercalando passado e
presente. Não pense que este é mais um dos livros que utiliza desse artifício.
Aqui, Rouaud cria um cenário como se estivéssemos realmente relembrando essas
lembranças esquecidas, que são interrompidas enquanto somos acordados de um sonho
e a realidade volta para esmagar nosso peito.
“É disso que se trata, da promessa que
você fez. Lembre-se disso. O caminho da fúria fatalmente conduz ao abismo.
Porque, para trilhá-lo, terá que alimentar constantemente essa fúria e sempre
olhar para trás. Vingança chama vingança.” (Página 353)
É importante dizer que todos os
personagens apresentam um papel fundamental na história, e mesmo os
antagonistas são extremamente cativantes. O que torna impossível a tarefa de
não compartilhar as emoções dos protagonistas e temer por suas vidas a todo
momento.
“Você vai matar sua inocência também,
meu rapaz. E, acredite, quem mais lamenta isso sou eu.” (Página 223)
A única coisa que me incomodou foi a
forma com que os eventos do passado foram recontados. Já havíamos vivido eles
uma vez, e então o autor novamente nos leva através das mesmas memórias. Não é
que eu tenha odiado isso, mas achei um pouco cansativo ter que ler as mesmas
coisas, apenas com um ponto de vista diferente.
Escolhi por deixar essa resenha o mais
vaga possível, para instigar vocês a lerem esse livro fantástico! “O Livro e
a Espada” é a história de uma lenda caída e a jornada do maior cavaleiro de
todos os tempos. Temos política e conspirações, sem deixar de lado o calor da
batalha, toques de magia e profecias envolvendo um grande livro. Nos é mostrado
aqui, o quão fundo alguém pode chegar e como sempre há tempo de se reerguer e
fazer o que é certo.
“O olhar que cruzou o seu arrancou-lhe
toda a segurança. Brilhava, naqueles olhos cinzentos, uma vontade
inquebrantável. Suas palavras foram doces, mas secas, um murmúrio que ficou
para sempre gravado na memória, tão forte quanto um grito:
- Um dia o senhor
vai entender. Pode ter certeza. Ainda vou ser o maior cavaleiro que este mundo
já viu.” (Página 55)
Autor: Antoine Rouaud
Editora: Arqueiro
Número de páginas: 400
Skoob: Adicione a sua estante
Classificação: ★★★★★/✰✰✰✰✰
*Livro cedido em parceria pela editora*
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