sexta-feira, 11 de maio de 2018

[Resenha] Interferências


“Interferências” é um livro da autora de ficção científica Connie Willis, que mistura ficção científica e romance. Sim, você leu certo. Eu li um livro de romance e gostei *PAM PAM PAAAM!

Acompanhamos a história de uma protagonista - com um nome incrivelmente bizarro, que eu nem me atrevo a tentar pronunciar - chamada Briddey. Que tem a família mais insuportável que eu já tive o desprazer de ler sobre. SEN OR dai-me paciência!

A família dela não tem a mínima noção do que a palavra espaço e respeito significam e se intromete, invade a casa dela e até mesmo o trabalho para jogar problemas ridículos nas costas dela…. O troféu integrante mais bosta definitivamente vai para Mary Clare… PUTA QUE PARIU como eu me irritei com essa porra de mulher… Kiriiiida, você não tem a menor noção de nada e é um milagre que a sua filha ainda não tenha te assassinado enquanto você dormia.


O começo desse livro foi extremamente difícil justamente pelas intromissões absurdas e que beiram o ridículo da família Flannigan. Junte isso a uma protagonista extremamente indecisa, sem voz ativa e desconfiada (ao mesmo tempo que é uma anta por não enxergar o óbvio), e você teria uma receita perfeita para o desastre.

Graças a deusa não foi o que aconteceu! A escrita fabulosa de Connie torna esse livro uma experiência extremamente agradável e impossível de largar. Fiquei surpresa com a facilidade com que as páginas passam, ainda mais levando em conta que esse livro tem quase 500 páginas.

O plot é incrivelmente complicado, denso e misterioso? Não. Mas a forma com que a autora constrói a narrativa, faz com que você passe a se importar até com os personagens que você odiou em um primeiro momento (você não Mary Clare). E apesar do enredo “bobinho” o livro faz reflexões quanto a nossa necessidade desenfreada por comunicação. Como não conseguimos passar cinco minutos sem o telefone por perto, e o que aconteceria se fossemos bombardeados por um excesso excessivo - entenderam o drama? - de informação 24 horas por dia.


Uma das coisas que me incomodou, fora a porra da família de Briddey, foi a personalidade da protagonista. Ela passa mais da metade do livro sendo extremamente passiva e submissa, tanto com relação a sua família quanto ao namorado bosta, Trent, e ao seu trabalho. Fora que a forma com que ela tenta escapar do confronto me fez arrancar os cabelos em fúria. Ao invés de agir como uma adulta, ela prefere se esconder e fingir que não ouviu o telefone tocando. Ou pior, ao invés de ela mandar todo mundo a merda e dizer para que eles cuidem de suas próprias vidas disfuncionais de merda, ela simplesmente sai correndo, fingindo uma reunião. Briddey passa a maior parte do livro tentando agradar os outros, ou preocupada com o que as pessoas vão pensar ou deixar de pensar sobre suas decisões. Ela não se coloca em primeiro lugar - claro, não ao ponto de ser uma egomaníaca psicótica, mas vocês entenderam o que eu quis dizer...

Ela definitivamente se importa demaaaaaaaaaaaais com o que as pessoas vão pensar dela e isso realmente estava me deixando maluca. Não sou nenhum exemplo de auto-confiança e blábláblá, mas puta que pariu. Briddey não bebe água sem antes confirmar com deus e o mundo que isso é aceitável - me senti bem melhor depois desse desabafo…


Apesar de o livro ser vendido como uma ficção científica são pouquíssimos os elementos que se encaixam neste gênero. Além de toda a história da cirurgia que aumenta a empatia entre os casais conectando-os emocionalmente, e a conexão inesperada de Briddey, não temos realmente nada que torne o livro “fantástico”. Ao meu ver, extremamente leigo dos romances, esse livro é muito mais um romance contemporâneo com uma pitadinha de ficção científica - ouvi boatos que ele se encaixava como chicklit. Mas a primeira coisa que me vem em mente ao pensar nesse gênero é Meg Cabot, autora de uma infinidade de obras que acompanharam minha adolescência, e Sophie Kinsella, autora de “Delírios de Consumo de Becky Bloom” e uma porrada de outros títulos (tá pensando que só porque eu só leio terror não manjo de outros paranauês @?).

Não amei a protagonista, e ao escrever essa resenha percebo que ela me incomodou bem mais do que eu lembrava. Dois personagens foram sensacionais e tornaram a história muito melhor - até porque se eles não existissem não haveria história. Preferi não dizer quem eles são mas se vocês já leram o livro ou pretendem, fica óbvio de quem eu estou falando… Porém, nem mesmo eles são perfeitos e alguns artifícios da autora para a resolução do grande problema do enredo foram extremamente Deus ex-machina. Ou seja, resoluções que brotaram do rejunte do chão e não foram desenvolvidas.

Apesar do estresse inicial, que livro gostoso de ser lido! (você está me achando meio bipolar @?) Me fez lembrar minha origem de leitora compulsiva, quando lia romances bobinhos da adolescência e amava!


O enredo pode não parecer desafiador para algumas pessoas - ó grandes oráculos literários que são exímios desvendadores de finais - mas eu amei esse livro! Terminei ele com um sorriso bobo no rosto - enquanto tremia internamente como um chihuahua enfurecido. Sentimentos conflitantes para uma história com uma protagonista mosca morta que virou heroína graças a uma narrativa fenomenal.

Após essa leitura eu não tenho mais medo de começar a ler “O Livro do Juízo Final” da mesma autora. Acho que cada página a mais que foi escrita por essa mulher sensacional, é um presente, não algo a ser temido.

Autora: Connie Willis
Editora: Suma de Letras
Número de páginas: 464
Classificação: ★★★★★/✰✰✰✰✰

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