segunda-feira, 11 de junho de 2018

[Resenha] Sempre Vivemos no Castelo

“Meu nome é Mary Katherine Blackwood. Tenho dezoito anos e moro com a minha irmã Constance. Volta e meio penso que se tivesse sorte teria nascido lobisomem, porque os dois dedos médios das minhas mãos são do mesmo tamanho, mas tenho que me contentar com o que tenho.” (Página 7)


“Sempre Vivemos no Castelo” é um clássico da literatura norte-americana que finalmente chegou às prateleiras brasileiras. Diferente do que estamos habituados, este livro apresenta uma protagonista em que não se pode confiar, Mary Katherine narra a história misturando insanidade e questões do cotidiano, nos fazendo questionar a todo momento sua própria sanidade.

Merricat mesma diz, no início do livro, ter dezoito anos. Se esse detalhe tivesse sido tirado da obra, seria completamente translúcido que ela seria uma criança de cinco anos… 


Está é uma história sobre uma família que caiu em desgraça e atualmente se esconde em uma mansão. Sendo vítima dos olhares e fofocas dos moradores da cidade, Constance, a irmã mais velha de Merricat, não sai de casa. Mas o que aconteceu com a família Blackwood?

Você acaba amando e odiando a complexidade dos três personagens principais, Merricat, Constance e Julian. E por tabela descobre que odeia de verdade Charles, o primo visitante intrometido e inconveniente - que acabou não sendo aprofundado, sendo apenas mais uma das peças no quebra-cabeça que é “Sempre Vivemos no Castelo”.

A narrativa é cativante ao mesmo tempo que é claustrofóbica. Shirley Jackson gosta de jogar com o nosso psicológico, esfregando na nossa cara as bizarrices de tantas pessoas peculiares e malditas, ao mesmo tempo que nos aterroriza com a crueldade da cidade perante às irmãs.

Talvez o motivo desta obra não ter agradado tantas pessoas - na verdade você ama ou odeia este livro - seja a subjetividade da obra. Parte do próprio leitor interpretar os eventos narrados por Merricat, já que nada é entregue mastigadinho e de uma forma clara - na verdade é uma loucura da porra.


Acredito que se este livro tivesse sido escrito atualmente, e não em 1962, algumas coisas teriam uma definição mais clara, como a aflição de Constance em sair de casa, como sendo síndrome do pânico e agorafobia, e em certo modo a insanidade de Merricat como algum grau de autismo.

Uma das coisas que mais me deixou inquieta e irritada foi a passividade dos personagens. O mundo está acabando em volta deles e ninguém toma alguma decisão ativa para melhorar a situação, ou fazer qualquer coisa. Não digo que essa passividade foi ruim, e sim que foi um artifício da autora para nos deixar ainda mais incomodados...

A obra trata de temas como bullying e preconceito, afinal as irmãs Blackwood são perseguidas por serem diferentes, e apesar de inocentada, Constance ainda é vista como um monstro. Temos aqui uma obsessão dos moradores em se aproximar das irmãs, ao mesmo tempo que eles as repelem como a própria peste.

Não sei se eu amei ou odiei esse livro. Amei a escrita viciante de Jackson, mas a forma com que ela conduz a história e a fecha em um enredo previsível e sem pé nem cabeça me incomodou muito. E a grande revelação do mistério que permeia o livro é previsível e não foi nem um pouco impactante. Não sei se isso foi proposital, ou se a escrita da autora é realmente desta maneira, mas eu quero ler outras obras dela e mergulhar ainda mais profundamente em sua psiquê.


Uma coisa ficou clara: “Sempre Vivemos no Castelo” é um livro curto e rápido, envolto nas bizarrices de uma narradora inconsistente que se perde na miríade de sentimentos e medos de sua própria paranoia. Você aceita uma xícara de chá?

Autora: Shirley Jackson
Editora: Suma de Letras
Número de páginas: 200
Classificação: ★★★/✰✰✰✰✰

2 comentários:

  1. Já disse várias vezes no teu ig, mas vou dizer aqui de novo: eu amo muito esse livro!
    Adorei a foto e adorei a resenha!

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