terça-feira, 1 de outubro de 2019

{Outubro Trevoso} [Resenha] Rastro de Sangue #2: Príncipe Drácula

É com imenso prazer que eu os recebo para mais um ano de Outubro Trevoso. Para os iniciantes, a cada ano dedicamos o mês de outubro para produzir conteúdo única e exclusivamente de terror, então pegue seu tabuleiro ouija, suas velas pretas e venha assinar seu nome no livro da besta.


“Rastro de Sangue: Príncipe Drácula” é o segundo volume da saga composta por quatro livros (todos já publicados em inglês) da destemida, afiada e sagaz Audrey Rose.


No começo deste volume, temos uma Audrey Rose com cicatrizes em carne viva devido aos acontecimentos tenebrosos envolvendo Jack, o Estripador. Ela é assombrada pelo passado e teme não conseguir seguir em frente com a sua carreira. Em meio a essa batalha interna, ela viajará até a Romênia para estudar em uma das mais conceituadas escolas de medicina forense. Um ponto interessante é que a prestigiosa escola fica em um castelo que foi habitado por ninguém mais, ninguém menos do que Vlad Dracul - nosso chupa sangue favorito.


Como se isso não bastasse, uma trilha de corpos parece perseguir Audrey Rose e seu carismático e egocêntrico parceiro Thomas Cresswell.

Apesar deste livro ser consideravelmente maior que seu predecessor, não senti em momento algum que Kerri estava enrolando demais para engatar a história, pelo contrário: a construção de cenário e ambientação sempre foram um dos seus pontos mais fortes. Ela consegue nos transportar através das palavras para os bosques assombrados de Brasov e faz com que o cheiro pútrido dos cadáveres preencha nossas narinas. 


Ter uma protagonista feminista em pleno período vitoriano não é algo fácil de se construir. Em momento algum há descaracterização dos personagens e cenários, pelo contrário, Kerri consegue se manter na linha do acreditável e ao mesmo tempo dar visibilidade a misoginia e todos os preconceitos sofridos pelas mulheres ao longo dos anos - e que infelizmente ainda sofrem atualmente. 

"Barras imaginárias surgiram ao meu redor, engaiolando-me. Era precisamente esse o motivo da minha trepidação em relação a um noivado. Eu podia sentir minha autonomia escorregando das minhas mãos a cada vez que Thomas me oferecia um conselho sobre o que eu deveria fazer. Não era assim que as coisas aconteciam? Direitos e desejos básicos eram lentamente erodidos pela ideia de uma outra pessoa sobre como você mesma deveria agir." (Página 101).


Pelo simples fato de usar saias, Audrey Rose é julgada como inferior, incapaz e que se deixa dominar totalmente pelas emoções. Existe uma luta constante contra o machismo - que nesse caso é escancarado e repulsivo. Desde a hostilidade do próprio diretor da academia, aos comentários repulsivos de seus colegas durante suas aulas até a ultra proteção vinda por parte de quem ela acreditava respeitá-la como igual. A todo momento ela precisa provar que é tão capaz quanto qualquer outro homem e que ela não é uma donzela em perigo. 

Um outro ponto é a sua relação com Thomas. Ao mesmo tempo que ela age além de sua época, ela se deixar dominar pelo medo da reação de outras pessoas e julga essa paixão como algo vergonhoso e que deve ser reprimida. Infelizmente não nascemos desconstruídos, este é um processo constante e lento, do qual cada passo é libertador.


"A sociedade , como um todo, é inacreditavelmente obtusa. Se uma pessoa simplesmente se volta para outrem em busca de suas opiniões, perde a capacidade de pensar por si mesma de forma crítica. O progresso nunca seria feito se todos tivessem a mesma aparência, pensassem do mesmo jeito e amassem da forma." (Página 124)

E olhem só que surpresa “Rastro de Sangue: Príncipe Drácula” passa no Teste Bechedel, do qual existem pelo menos duas personagens femininas, elas interagem entre si e o assunto não são homens - graças a deusa.

E para esmurrar a cara do patriarcado, lutando contra os costumes conservadores da época viroriana, temos um relacionamento LGBTQ+ que de quebra é importante para o enredo - segura essa.


"Em todo caso, eu não podia mais continuar correndo das sombras. Orientei meu corpo a relaxar. Estava na hora de abraçar a escuridão e me tornar mais temível do que qualquer príncipe vampiro que estivesse caçando na noite. Mesmo que isso significasse que eu teria que sacrificar um pouco da minha alma e dos meus princípios." (Página 171).

Passagens secretas, assassinatos e morcegos de olhos vermelhos. “Rastro de Sangue: Príncipe Drácula” é uma imersão a aulas de história e terror, com toques de romance e muito sangue e que vai fazer você se questionar a todo momento qual os limites do sobrenatural?

Autora: Kerri Maniscalco
Editora: Darkside Books
Número de páginas: 424
Classificação: ★★★★★/✰✰✰✰✰ 

*Livro cedido gentilmente pela editora*

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